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Umberto Eco e as opiniões alienantes da internet

Umberto eco e as opiniões alienantes da internet

O escritor italiano Umberto Eco (1932-2016) alertou para o perigo do subjetivismo na formação de crenças sobre o mundo. Segundo ele, a internet seria um campo propício para a formação de opiniões alienantes e perigosas, baseadas em análises superficiais dos fatos. O texto abaixo é um convite à reflexão.

Eu queria lhe dar um exemplo talvez um pouco extremo, mas que me parece esclarecedor. Qual é, no quadro da historiografia contemporânea, a diferença entre um revisionista e um negacionista? O revisionista está de acordo no atacado com o julgamento da coletividade sobre o que se passou, mas pretende corrigir alguns detalhes. Para ele não houve 6 milhões de mortos nos campos de extermínio, mas 5,5 milhões; ou então contesta o fato de ter havido câmaras de gás no campo etc. Existe mesmo uma historiografia revisionista que não diz respeito ao holocausto mas a outros acontecimentos, por exemplo a Guerra Civil Espanhola. O revisionista não nega o que sucedeu, nem as responsabilidades, mas apenas quer avaliar diferentemente o papel dele, sustenta por exemplo que Franco não era fascista mas somente anticomunista… Pode discutir ao infinito, sobre a base de fatos e de critérios que são aceitos pelas duas partes envolvidas.

O negacionista, ao contrário, é aquele que “revisionou” a história da Segunda Guerra Mundial em seu conjunto. Não reconhece o julgamento da coletividade: nega-o categoricamente. Nega a existência das câmaras de gás. Se a coletividade lhe apresenta documentos, ele decide que o modo como ela valida os documentos não é o seu. Segundo ele, ou a coletividade se engana, ou é manipulada. Isto é, ele junta de maneira pessoal todos os elementos de informação que circulam na enciclopédia histórica, deixa de lado alguns, dá mais importância a outros; não segue os critérios coletivos, segue seus próprios critérios.

Ora. esta lógica perversa, que é a de uma minoria de fanáticos, poderia um dia se tornar a lógica da Web. Cada um produziria seus próprios critérios para selecionar a informação. É a história à la carte… No dia em que toda norma comum desaparecer porque cada um poderá inventar sua própria leitura dos acontecimentos históricos e científicos, não restará mais nenhuma base comum para escorar nossa aventura coletiva.

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