FILOSOFIA

Antonio Gramsci e a hegemonia cultural

Antonio Gramsci e a hegemonia cultural

Antonio Gramsci (1891-1937) foi um filósofo e político italiano considerado um dos mais influentes autores marxistas do século XX. Sua obra realiza uma ampliação das ideias de Karl Marx, principalmente no que tange ao conceito de Estado e sua influência nas instituições culturais.

Foi um dos fundadores do Partido Comunista da Itália e deputado pelo distrito de Vêneto. Produziu ensaios sobre teoria política e trabalhou como editor de vários jornais comunistas até ser preso pela ditadura de Benito Mussolini.

A obra de Gramsci é dividida em duas fases: os ensaios políticos anteriores à sua prisão e as Cartas do Cárcere e Cadernos do Cárcere produzidos enquanto estava preso, sendo a segunda fase a mais influente. Suas teorias sobre educação e sua função no combate à ideologia dominante influenciaram a obra de Paulo Freire.

Hegemonia Cultural e Intelectuais Orgânicos


A noção de Hegemonia Cultural em Antonio Gramsci é um dos pontos fundamentais de sua filosofia. Não se trata, nos moldes de Marx, de realizar uma tomada do poder, fazendo assim com que um governo revolucionário ocupe as esferas da classe dominante burguesa e capitalista (usando aqui os termos marxistas).

Para Gramsci, a ideologia é o ponto fundamental a ser atingido, e não uma revolução armada que coloca no poder um governo revolucionário.

De acordo com a visão clássica marxista acerca do capitalismo, este caminho violento seria natural e previsível. O capitalismo por si mesmo seria um sistema autodestrutivo e, uma revolução armada liderada pela classe trabalhadora, inevitável.

Esta ideia de luta armada e uso da violência ocupou o palco das revoluções socialistas do século XX, transformando Karl Marx em um filósofo amado e odiado. No Manifesto do Partido Comunista, o filósofo alemão declara:

A burguesia, porém, não forjou apenas as armas que lhe trarão morte; produziu também os homens que lhe trarão morte — os operários modernos.

A noção de ideologia é fundamental em Marx, que a entendia como ferramenta da classe dominante que naturalizava a exploração humana, fazendo o povo acreditar que sua exploração seria algo normal, gerando assim um conformismo generalizado entre a classe explorada. O próprio Estado e as leis seriam ferramentas ideológicas da burguesia.

Antonio Gramsci, por sua vez, ampliou esta ideia e estruturou sua filosofia a partir dela.

A destituição do capitalismo exploratório não deveria ocorrer através da tomada violenta do poder econômico, como teorizou Marx, mas sim através do ataque à ideologia da classe dominante.

Trata-se de uma inversão da pirâmide idealizada por Marx. Não é o poder econômico que mantém a exploração capitalista, mas sim a ideologia disseminada pela classe dominante.

A concentração de renda, a exploração e a pobreza não seriam frutos apenas do acúmulo de capital nas mãos de poucos, mas também (e principalmente) da mentalidade imposta pelos meios de comunicação e pelo próprio Estado que mantém o conformismo.

Segundo o filósofo italiano, o que está na ponta da pirâmide não é apenas o poder econômico, mas sim a fonte da Hegemonia Cultural: a ideologia dominante.

Assim, Gramsci propõe a atuação dos Intelectuais Orgânicos oriundos da classe trabalhadora, que seriam os grandes atores deste novo palco, não mais operários armados como sugeriu Marx.

Esses intelectuais orgânicos atuariam nas instituições da sociedade, como escola, religião, meios de comunicação, partidos, etc, realizando uma contracultura.

A tarefa fundamental desses Intelectuais Orgânicos consistiria em combater a Hegemonia Cultural que mantém a exploração, abrindo assim o espaço para uma revolução socialista a partir da destruição da mentalidade imposta pela classe dominante.

Autor: Alfredo Carneiro


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