Pensamentos & Imagens

O Admirável mundo de Aldous Huxley

Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley

O livro Admirável Mundo Novo é uma reflexão radical sobre a superficialidade e as consequências das sociedades de consumo, onde a satisfação total dos prazeres e a alienação promovem o controle social, substituindo a opressão de regimes ditatoriais. Nesta perspectiva, os cidadãos se tornam "escravos que amam as suas correntes".

“Admirável Mundo Novo” é um  livro de ficção científica assustadoramente atual escrito em 1931 por Aldous Huxley. Na verdade, parece que nos encontramos quase no ponto descrito por Huxley. O livro faz um ataque radical ao mundo excessivamente consumista, descrevendo uma sociedade que tem suas fundações na alienação, na busca do prazer, na liberdade sexual e na utilização de drogas e jogos como meios de escapar das angústias existenciais. A “felicidade” é o objetivo desta sociedade, mesmo que pagando o preço da falta de consciência, da manipulação de massa e do condicionamento mental.

No livro, a fé inabalável na ciência, bem como a busca por estabilidade, progresso e consumo contínuo, levaram os criadores deste “novo mundo” a estratificar as classes sociais de acordo com a criação genética –  as pessoas não nascem mais, são produzidas em laboratório tal como produtos e depois mentalmente condicionadas, desde crianças, a seguir regras bem definidas de comportamento. Para cada classe existem jogos e religiões específicas; a classe operária (os Deltas, Gamas e Ipsilones) já nasce estupidificada para amar sua condição e tem suas atividades, jogos e religiões adequados à sua baixa capacidade mental. As classes superiores (Alfas e Betas), destinadas às atividades mais complexas, têm religiões e jogos mais sofisticados, embora também tenham capacidade crítica. Para os Alfas e Betas que questionam esta sociedade existem as ilhas onde eles são isolados para o resto da vida, pois suas ideias polêmicas podem afetar o condicionamento coletivo. A própria ciência é controlada, pois os avanços científicos que não correspondem à logica do “Novo Mundo” são sumariamente descartados.

Para todas as classes existe também o delicioso SOMA, droga da felicidade que é distribuída para todos, que a consomem tanto na forma de pílulas como de sorvetes e outros alimentos, proporcionando (de acordo com a dosagem) êxtase, entorpecimento e viagens psíquicas que alienam mais ainda. “O cristianismo sem lágrimas”, assim um dos administradores do novo mundo define o SOMA.

Com esta pequena apresentação fica fácil fazer uma comparação com a realidade atual, principalmente a brasileira, em que futebol, bebidas e televisão revelam ser os pilares da estabilidade de uma sociedade voltada para o consumo desenfreado, o prazer, a liberdade sexual e a aparência. Para atender aos questionamentos existenciais e a natural inclinação do homem para a religiosidade, temos um leque de religiões populares cuja  superficialidade e sentimentalismo atende a esta necessidade humana, mas de forma pouco profunda, como convém a uma sociedade sem profundidade. Tudo tem um único objetivo:  que nos tornemos escravos que amam as suas correntes,  para com isso alimentar a selvageria consumista.