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Engenharia, Ciência e Filosofia

Sputnik - Filosofia, ciência e engenharia

Recentemente li esta frase: “Sem engenharia, a ciência seria apenas filosofia”. Seu autor pode até ser engenheiro competente, mas faltou-lhe compreensão ampla de sua profissão. O filósofo Edgar Morin já havia denunciado essa cegueira da educação ocidental; essa a falta de interdisciplinaridade que impede os indivíduos de perceberem as conexões dos saberes.

A interdisciplinaridade é característica da Filosofia, afinal, desde seu surgimento na Grécia Antiga os primeiros filósofos perceberam a unidade de todas as coisas. A interdisciplinaridade nos permite pensar de forma complexa e criativa, mas, no momento, o quadro global da educação produz profissionais que pensam de forma limitada dividindo, separando e hierarquizando os conhecimentos.

A engenharia é o impulso criativo que faz nascer a técnica, que tenta superar nossa fragilidade humana; a ciência é conhecimento que se volta para esse mundo, impulsionada pelo maravilhamento e curiosidade;  a Filosofia, por sua vez, nasce do desejo de sentido e transcendência, tenta dar significado à finitude e ao sofrimento, pois esse desejo parece estar impresso em nós. Em uma perspectiva ampla, todos esses saberes estão interligados.

Hannah Arendt e o Sputnik


A filósofa Hannah Arendt afirmou que o lançamento do primeiro satélite, o Sputnik, é fruto do anseio humano de emancipação da condição terrena. Ela interpretou filosoficamente o resultado dos esforços de engenharia e ciência envolvidos naquele projeto.

O Sputnik é exemplo da união entre engenharia, ciência e filosofia. No final das contas, apesar do sentido bélico e competitivo, há nesse evento um desejo de transcendência.

O que importa não é a supremacia de um tipo de conhecimento, pois essa divisão é ilusão, mas a interligação de saberes que cria uma visão ampla da realidade, da técnica e da própria humanidade.

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche afirmou que “enquanto olhares as estrelas por cima de ti, ainda não tens o olhar daquele que sabe”. Enquanto nossos jovens acreditarem que existem conhecimentos superiores aos outros, como a eterna rixa entre exatas e humanas, eles também nunca terão o olhar dos homens que sabem. Ficarão sempre presos no círculo vicioso da profissão sem capacidade de pensar sobre a própria condição humana e os problemas da sociedade.

Autor: Alfredo Carneiro


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