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Linha do tempo da cultura digital.

Confira o projeto  linha do tempo da cultura digital, trata-se de uma linha do tempo que mostra os principais eventos que marcaram a cultura digital no Brasil e no mundo. É uma importante ferramenta que nos ajuda a observar a evolução da cultura digital e sua influência na cultura e na sociedade.

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O texto Sobre, extraído do site, diz tudo o que tem que ser dito sobre o projeto :

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“A Linha do Tempo da Cultura Digital é um projeto que visa recuperar a memória da cultura digital, inicialmente, nos últimos 10 anos. Busca recuperar fatos, eventos, pessoas e falas que tenham sido importantes para a fundamentação da cultura digital hoje, seja no âmbito nacional quanto no internacional.

O projeto foi desenvolvido pelo Hacklab e pela Fli Multimídia,  para o II Fórum da Cultura Digital Brasileira, e espera ter a colaboração de cada um que queira ajudar na recuperação da memória da cultura digital nacional e internacional.”

As novas tecnologias imbecilizam?

Culpamos as tecnologias porque queremos tirar de nossas costas o peso de nossa responsabilidade. Televisão, internet, celulares e video-games são interpretados com “entidades” que alienam e viciam os jovens, como se essas tecnologias tivessem vida própria.   O fato, bem real, é que os jovens das grandes cidades estão ficando alienados. No entanto, culpar as tecnologias é reduzir um problema complexo para que, enfim satisfeitos e livres de culpa, possamos prosseguir com nossos julgamentos equivocados.

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Armando Levy, gestor de conteúdo da e-Press, faz a seguinte observação :

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“No entanto, o que parece se tornar evidente a cada dia que passa é o fator de alienação que se esconde no uso de Internet, pois a juventude, ao invés de questionar a corrupção no País ou a qualidade do ensino que recebe, parece preferir passar seu tempo em pseudo comunidades no Orkut ou Youtube comentando a capa que o cantor do último vídeo clipe estava usando”

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Portanto, a bobagem coletiva que vemos na internet é fruto de uma alienação que inicia nas escolas, nas casas e no governo. Talvez, até mesmo por conta de nossa educação, voltada para a produtividade, perdemos a capacidade de ver o  óbvio. E o óbvio é que por trás das tecnologias estão pessoas.  Supor que as tecnologias são culpadas é supor que uma arma consiga cometer um crime por conta própria.

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Pierre Levy fala sobre isso em seu livro Ciberculura :

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“Mesmo supondo que existam três “entidades” (cultura, tecnologia e sociedade), poderíamos igualmente pensar que a tecnologia é fruto de uma cultura e de uma sociedade. Não existe nenhum ator ou “causa” independente. Encaramos as tendências intelectuais como atores porque existem grupos humanos bastante reais que se organizam ao redor desses conceitos. Ou mesmo porque alguns desses grupos tentam nos fazer acreditar que um problema é “puramente técnico” , “puramente cultural” ou “puramente econômico”. As verdadeiras relações não são entre tecnologia e cultura, e sim entre um grande número de atores humanos que inventam, produzem, utilizam e  interpretam as tecnologias.”

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É mais fácil culpar essas “entidades” do que olhar para nossas falhas.  Não usamos o poder  da internet para combater a corrupção e o  descaso com a  educação.  Observamos a cultura da beleza,  da futilidade, da indivudualidade e da “auto-estima” tomar conta de nossa juventude, que aos poucos começa a perder seu senso crítico  e a seguir as “modas”  e  “tendências”, mascaradas de tribos e filosofias,   que são disseminadas através das mídias de massa.  Tudo isso tem uma singela lógica : vender produtos. E para vender produtos vale tudo, até mesmo alienar uma geração.

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Deixamos nossos filhos  em busca da “eficiência” e da “eficácia”,  buscamos a felicidade pessoal, perseguimos a magreza, a beleza e a riqueza em detrimento do verdadeiro convívio social.  Não cobramos nossos direitos e não cumprimos com nossos deveres.  Quando a sociedade apresenta os resultados dessa visão de mundo, dizemos que o problema está na televisão,  na internet, nos video-games ou seja lá o que for a “bola da vez”.

A incrível história da Mídia e da Comunicação Literária

Muito se discute hoje sobre o destino da literatura e do livro impresso na era digital.  O livro, como símbolo maior da cultura ocidental, parece estar ameaçado pelas novas tecnologias.  Mais uma vez surge o debate entre os “integrados” e os “apocalípticos”. Os “integrados” defendem as vantagens da virtualização da literatura enquanto os “apocalípticos” afirmam que as novas mídias  podem imbecilizar e fazer com que as pessoas, aos poucos, percam a habilidade de ler e interpretar.

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Ao contrário do que afirmam as posições radicais, o que estamos presenciando é uma nova relação com o saber promovida pelas mídias digitais. O trabalho individual e autoral começa a perder espaço para uma dinâmica colaborativa. Essa dinâmica não é nova, pois já ocorria na tradição oral e na tradição escrita. Uma rápida visão da história da mídia e da comunicação literária pode, acredito, nos dar algumas respostas sobre essa dinâmica.

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Este post foi inspirado no texto Processos Midiáticos e Comunicação Literária, de  Heidrun Krieger Olinto.

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A Cultura Oral
A transmissão de conhecimentos sofreu várias modificações na sua mídia ao longo da história da humanidade, considerando que a mídia é o suporte da mensagem que é transmitida. Assim, a transmissão oral,  cantada e falada, foi responsável por grande parte dos conhecimentos que nos chegaram da antiguidade e até mesmo de épocas anteriores à escrita.  A mensagem oral atingia todos os sentidos do receptor, que eram as pessoas que, ao redor das fogueiras, ouviam histórias milenares de mitos, lendas e heróis, contos de sabedoria impregnados de encantamento.

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Algo que se aprende assim fica marcado de forma indelével na memória e pode ser lembrado anos e anos depois, pois envolvia ouvir, ver, interagir e se emocionar.  A cultura oral construiu as identidades culturais dos povos. A mídia, o suporte da mensagem, era o próprio homem com seu gestual, sua voz e sua dramaticidade..

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“Origina-se do primórdio dos tempos, quando ainda não havia a escrita e os materiais que pudessem manter e circular os registros históricos, e na atualidade própria das classes iletradas, a tradição oral tem sido, contudo, muito valorizada pelos eruditos que se dedicam ao seu estudo e compilação (os contos dos Irmãos Grimm, por exemplo), ao considerarem que é na tradição oral que se fundamenta a identidade cultural mais profunda de um povo. Supõe-se, por exemplo, que a Ilíada e a Odisseia de Homero foram, inicialmente, longos poemas recitados de memória.”  Wikipedia – Tradição Oral

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O surgimento da escrita

Com o surgimento da escrita entramos na era da cultura letrada manuscrita. Os escritos, copiados a muito custo, eram lidos em voz alta. Nascia a chamada “leitura acústica”.  A mensagem ganhava  uma nova mídia, um novo suporte, que era papiro, o couro ou mesmo os livros artesanais.  No entanto a oralidade ainda era mantida. A palavra escrita era apropriada plenamente pela percepção visual, pela recepção dos sons e pelos gestos. Era, portanto, um “processo perceptivo sensorial global”.  Os manuscritos eram muito valiosos e  precisavam ser copiados para uso particular.  Ao contrário do que acontece atualmente com a recepção passiva do  livro impresso, os manuscritos demandavam um esforço sensorial ativo e cada manuscrito acabava por ter o estilo e ponto de vista pessoal daquele que o copiava.

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“Trata-se, portanto, de processos perceptivos sensoriais globais que permitem lidar com a palavra escrita e apropriar-se dela materialmente de forma plena : pela percepção das letras com os olhos, pela recepção do som pelos ouvidos, pela realização da fala com o movimento dos lábios e pelos movimentos senso-motores do corpo no rímodo da sequência verbal.”  Heidrun Krieger Olinto

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O livro impresso

A criação do livro impresso permitiu a massificação do saber e a gradativa exclusão do corpo e da experiência sensorial.  A leitura passou a ser uma atividade pessoal,  fortemente visual e passiva.  A “esfera acústica” passou a dar lugar a “esfera ótica”.  Ocorre uma mudança na mídia, que passa do livro artesanal para o livro impresso em larga escala.  O livro, como mecanização de uma arte artesanal, passa a ser reproduzido de forma homogênea e sem alterações personalizadas.  A uniformização visual da escrita passou a colocar o conjunto dos sentidos em segundo plano. A antiga comunicação literária, que exigia da audição, da visão e do gestual, é gradativamente deixada para trás.  A interatividade coletiva que ocorria na cultura oral  é substituída pela contemplação individual.

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Com o livro impresso nasce o direito autoral, a massificação das ideias e a multiplicidade dos pontos de vista. A nova mídia afeta de forma decisiva as culturas e dissemina o conhecimento. Mais do que afetar a cultura, ela promove profundas modificações no ser humano. Nasce a diferença entre razão e  sentimento.  Corpo e espírito passam a ser coisas separadas.  O autor passa a ter um posição privilegiada, uma vez que a interatividade que ocorria na oralidade deixa de existir.  A contribuição da coletividade é substituída pela opinião individual. O que antes era uma coisa só na cultura oral (o corpo, o gesto, o sentimento e a voz)  passam a ser vistos como coisas distintas. A  reconstrução do sentido precisa de uma leitura bem sucedida. Emissor e receptor se tornam invisíveis e anônimos.

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“Para Hans Ulrich Gumbrecht,  foi a literatura, mais do que outra forma de comunicação, que- com a introdução do livro impresso- contribuiu para a separação do corpo e do espírito. Segundo ele, a disseminação do livro impresso introduziu uma mudança estrutural responsável pela exclusão do corpo. O resultado dessa mudança midiática encontra na sua fórmula máxima na separação de sentimento e razão, ou seja,  na cisma entre corpo e espírito. Conceitos de verdade passam a orientar-se em dados empíricos e experimentação exata e na formalização de hipóteses segundo um modelo de lógica matemática.  “

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A Era Digital

O que observamos hoje é  um retorno das antigas formas de comunicação. A era digital promove a união entre “esfera visual” e a “esfera acústica”.  Os gestos corporais e a sonoridade resurgem em vídeos espalhados pela rede. A leitura de um livro, e seu esforço de compreensão, é complementada pela vídeo-aula de um professor, que com seus gestos e sua voz ampliam o entendimento e resgatam a importância da oralidade. O receptor tem agora, depois de séculos, a possibilidade de transformar o texto e dar sua opinião e contribuição através de comentários pessoais e vídeos-resposta, algo parecido com o que acontecia na época do livro artesanal. O gesto ativo do receptor passa a transformar o conhecimento conforme acontecia na tradição oral.  O direito autoral, ícone do livro impresso e da indústria cultural,  se esvai na coletividade.

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“Marshall McLuhan vincula a audiovisualidade da mídia eletrônica a essas formas antigas da cultura manuscrita fundada sobre articulações recíprocas entre os processos perceptivos do ouvir e do ver e a presença de gestos corporais. Para ele, a eletrotécnica permitiria recuperar significados antigos para a palavra falada e cantada,  conjugada à imagem visual dos falantes e dos cantores que o advento dos tipos impressos tinha praticamente afastado. (MacHulan, 1962). “

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O que estamos assistindo, portanto,  é uma nova relação humana com o saber promovida pela união do texto com a audiovisualidade e interatividade das mídias eletrônicas.  É importante observar que a cultura oral nunca deixou de existir,  e é provavel que o livro também não deixe de existir. O que existe, dentro da ampla perspectiva da história,  é a transformação,  integração e evolução das mídias.

Arte Tecnológica : Uma introdução

A arte tecnológica é uma nova forma de fazer arte que tem acontecido nos últimos 30 anos, substituindo os artefatos utilizados na produção da arte “tradicional” por dispositivos tecnológicos. Telas, pincéis, quadros e esculturas passam a concorrer com uma arte virtualizada, conectada e interativa.

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A nova face da arte deve responder aos anseios do homem moderno. O novo e populoso mundo tecnológico, caracterizado pela conectividade, pelo cotidiano caótico e pela confusão dos espíritos, está em busca de um novo tipo de arte que o represente. Essa nova arte dá sentido e valor à tecnologia.

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Através dos recursos tecnológicos os artistas aumentam sua capacidade de se expressar, transportam o espectador para dentro de ambientes virtuais, conectam quadros distantes e buscam causar surpresa e impacto, chamando a atenção para o sentido da obra. Recursos de interatividade e imersão levam o indivíduo a sentir o prazer de caminhar em um jardim fantástico ou a “sentir na pele” a agonia da guerra.

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Dessa forma, a arte tecnológica tenta fazer o homem moderno perceber como a tecnologia e seus dispositivos se infiltraram silenciosamente em suas vidas e mudaram seus costumes e ampliaram sua visão do mundo, de forma objetiva, percebendo as modificações do mundo como coisa externa; e de mundo, de forma subjetiva, sendo utilizada no repensar acerca das questões tanto cotidianas quanto emocionais e filosóficas.

O valor da literatura na era digital

Recentemente escreví um post sobre a nova literatura da era digital. No entanto o texto é focado em narrar a dinâmica da criação coletiva de textos na internet,  a crescente confusão sobre os direitos autorais e a natural resistência das pessoas ao que é novo. No entanto, qual o valor dessa nova literatura ?

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Refiro-me a quase todos os significados possíveis da palavra valor (valor financeiro, valor estimado, valor para a cultura, etc..). Nesse caso, não se trata mais de uma resistência ao novo. O problema enfrentado pela era digital é que as pessoas estão perplexas. Textos clássicos agora circulam na internet e podem ser lidos, apagados ou transferidos. A nova literatura que surge  tende a ser coletiva e não sabemos ao certo quem é o autor, obras de domínio público podem ser baixadas gratuitamente, livros protegidos por direito autoral são digitalizados e copiados indiscriminadamente pela internet e editoras  começam a ver seu faturamento diminuir.

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Essa perplexidade é natural, afinal, fomos criados comprando livros, recebendo livros de nossos pais, dando valor sentimental ao objeto que é o livro.  No livro está a dedicatória do amigo, da namorada, da mãe e  do pai. Alguns livros custaram muito caro, outros demoraram a chegar pelos correios trazendo a sua novidade, a sua informação e a sua história.

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A escrita dividiu a história, estava gravada nas cavernas, pertencia a elite medieval, difundiu as artes, as filosofias e as engenharias. O que somos hoje como civilização foi construído através da escrita. E a escrita sempre utilizou um suporte físico, seja pedra, parede de caverna, papiro e finalmente o livro.  Mas nunca foi “virtualizada”. De repente um costume de seis mil anos perde sua corporeidade, seu cheiro e seu tato. Olhamos perplexos para o “livro” digitalizado e sem forma, mas não sem essência.

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No entanto, existem claras vantagens na digitalização. Praticamente uma biblioteca inteira cabe em um pen-drive e novas tecnologias tem surgido tentando dar ao leitor a comodidade do livro, como os e-readers e os tablets.  Se podemos baixar de graça o livro  O Estrangeiro de Albert Camus e ler em nosso e-reader, provavelmente não iremos em uma livraria para comprá-lo.

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Muitas são as questões que surgem quando imaginamos a virtualização do livro. Talvez somente a imaginação poderá nos dar respostas possíveis. Imaginemos então o futuro.  Dispositivos de leitura terão baixíssimo custo e best-sellers poderão ser baixados da internet. O download de livros e revistas custará aproxiamdamente R$ 1,00.  Dispositivos de segurança protegeriam a obra literária de cópias não autorizadas. Como o custo das obras será baixo, a pirataria ficaria enfraquecida, mas ainda existiria. Escritores publicariam seus livros sem intermédio de editoras e editoras se dedicarão a produzir versões estilizadas dos best-sellers, manuais, quadrinhos e literatura infantil com recursos de sons, vídeos e interatividade, ampliando a capacidade de assimilação e compreensão de uma forma que não seria possível apenas com o texto impresso.

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O livro impresso, acredito,  não deixará  de existir. Apenas perderia sua hegemonia para a virtualização  mas ainda teria seu público, que seriam pessoas que, mesmo tendo dispositivos eletrônicos, tem mais afinidade com o livro impresso. Dessa forma o livro impresso deverá conviver lado a lado com a virtualização.

Cultura brasileira gratuita na rede

O site www.dominiopublico.gov.br é uma acertada iniciativa do Ministério da  Educação. Disponibiliza gratuitamente as grandes obras da literatura brasileira e muito mais.  O trecho abaixo, extraído do site, diz tudo que deve ser dito sobre esse projeto.

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O “Portal Domínio Público”, lançado em novembro de 2004 (com um acervo inicial de 500 obras), propõe o compartilhamento de conhecimentos de forma equânime, colocando à disposição de todos os usuários da rede mundial de computadores – Internet – uma biblioteca virtual que deverá se constituir em referência para professores, alunos, pesquisadores e para a população em geral.

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Este portal constitui-se em um ambiente virtual que permite a coleta, a integração, a preservação e o compartilhamento de conhecimentos, sendo seu principal objetivo o de promover o amplo acesso às obras literárias, artísticas e científicas (na forma de textos, sons, imagens e vídeos), já em domínio público ou que tenham a sua divulgação devidamente autorizada, que constituem o patrimônio cultural brasileiro e universal.

A nova literatura

Este post não é totalmente meu. Este texto é uma transformação de um outro texto. Ele é baseado na leitura do artigo Quando a técnica se faz texto ou a literatura na superfície das redes, de Ana Cláudia Viegas. É essa transformação que caracteriza a nova literatura. No entanto, essa dinâmica também cria debates sobre as  “ameaças” das tecnologias digitais.

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No texto, a autora cita o diálogo entre Teut  e um rei egípcio. Teut defende uma nova tecnologia : a escrita. O rei egípcio argumenta que essa nova técnica iria tirar dos homens a capacidade de se lembrar das coisas, uma vez que poderiam recorrer à escrita.

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Ora,  a escrita está aí. Contribuiu para a evolução da civilização, a construção das cidades, criação  de estados e a disseminação de muitas culturas e conhecimentos.  O surgimento de novas tecnologias parece ter uma dinâmica que se repete sempre, que é  o debate entre os “integrados” e os “apocalípticos”. Como diz Pierre Levy em seu livro Cibercultura : “Parece que o passado não é capaz de nos iluminar”.

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No entanto, o que será a nova literatura ? Uma resposta possível é a criação coletiva de textos e a leitura hipertextual. Um exemplo claro é a wikipédia. Blogs, como esse, também são um ótimo exemplo. O texto é fragmentado, são segue uma ordem sequencial como acontece com os livros. As palavras que geram dúvidas ou que possam ter mais de um sentido são linkadas para outro texto que as esclarecem. Os textos na internet ligam-se através de links formando uma gigantesca “teia virtual” de conhecimento. Os posts dos blogs recebem comentários e se transformam, pois não se trata apenas da ideia do autor do texto e sim de um texto dinâmico onde autor e leitor se confundem.

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Nesse contexto, o conceito de direito autoral se dilui na  rede e gera, novamente, um novo debate. Um debate que parece um eterno devir do conflito entre o velho e o novo.

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Essa mudança na literatura é apenas um reflexo das profundas mudanças provocadas pelas tecnologias digitais. Um contraste entre um mundo estático e territorialista e um mundo que se transforma rapidamente através do movimento livre das ideias e das pessoas em um mundo virtual.

Felipe Neto, PC Siqueira e Cibercultura

PC Siqueira

Algumas das principais características da cibercultura são a interatividade, a comunicação direta entre as pessoas e a descentralização da grande mídia. Um jovem que grava vídeos caseiros que são visualizados milhões de vezes sem o intermédio de uma emissora de televisão é um fenômeno que ajuda a compreender essas características.

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Hoje um indivíduo, através da internet, pode expressar sua opinião livremente e receber respostas de seus espectadores sem filtros ou censuras. A primeira característica observada é a descentralização da grande mídia. Os vídeos caseiros publicados por Felipe Neto e PC Siqueira conseguiram atingir milhões de visualizações apenas através da disseminação entre os jovens e sem o intermédio de uma emissora de televisão.

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Enquanto isso, a televisão tem como principal característica a passividade no recebimento da mensagem. O espectador não é um ator ou agente de transformação da informação e a interatividade é muito baixa, se existir.

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Com a internet ocorre o contrário. O receptor da mensagem pode fazer comentários, gravar vídeos de resposta ou até mesmo se comunicar diretamente com o emissor da mensagem. O espectador se torna um agente de transformação da mensagem. Assim, a internet proporciona uma experiência de interatividade que a televisão não consegue proporcionar.

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Para o público jovem que quer se expressar, e percebe que os atuais programas de televisão não refletem sua realidade, seus dramas e seus problemas atuais, a internet tende a se tornar sua principal fonte de informação e forma de expressão.

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Felipe Neto

Os vídeos publicados por Felipe Neto e PC Siqueira tratam de assuntos como homossexualismo, preconceito,racismo, carnaval, corrupção e comportamento adolescente  através de uma linguagem que atinge o público jovem brasileiro.  Os autores dos vídeos gritam palavrões, pulam, ridicularizam filmes e bandas da moda, esquecem o que estavam falando, aparecem fazendo café, mostram a bagunça do quarto, etc.  Com  isso eles conseguem atingir um público que  percebe nesses vídeos que aquela é a realidade do jovem brasileiro das grandes cidades.

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Apesar do enorme poder que os meios tradicionais de comunicação ainda exercem no Brasil, o surgimento dessas celebridades da internet apontam para um novo comportamento do público. Ele quer deixar sua opinião, seu insulto, seu xingamento e sua indignação.

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Não importa, na análise desse fenômeno, a validade das opiniões dos autores dos vídeos e sim o fato de que podemos observar uma parcela da nova geração em busca de novas experiências de comunicação. Isso não impede, é claro, que as emissoras de televisão, jornais e revistas explorem os novos canais de comunicação, mas essa é outra história.

Livro Cultura Digital.br : uma iniciativa brasileira.

Cultura Digital.O livro Cultura Digital.br,  Iniciativa do Ministério da Cultura, da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa e do Fórum da Cultura Digital Brasileira,  foi publicado levando em consideração uma ideia fundamental da cibercultura : a de que o conhecimento se transforma e evolui na com o trabalho colaborativo.

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O livro tem o objetivo de ser um provocador de debates,  conforme a palavra de um dos organizadores do livro, Rodrigo Savazoni :

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Goste ou não do que vier a ler aqui, participe da discussão sobre a cultura contemporânea conosco no endereço web www.culturadigital.br. Lá, o livro continua. Com outros autores, em rede,de forma horizontal. Lá, também, teremos uma interface navegável do livro, para que você possa produzir suas próprias narrativas a partir das provocações que compilamos.

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Nada mais acertado quando se fala de cultura digital. A novidade dessa abordagem é a ideia de que uma informação publicada em um livro não é uma informação estanque, é apenas um início de um debate.

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Pensando nisso os organizadores convidam os leitores a participar através do site do Fórum da Cultura Digital Brasileira, estabelecendo assim um canal de interatividade. Outra característica importante dessa iniciativa é que o livro pode ser baixado gratuitamente, o que é outra tendência da cultura digital. Dessa forma cria-se, de fato,  um ambiente favorável à inteligência coletiva.

A Inteligência Coletiva

A inteligência coletiva nasce do trabalho colaborativo e da interação que a internet proporciona. Essa interação humana cria um ambiente propício para o desenvolvimento de novas ideias e soluções. O conhecimento compartilhado na rede se multiplica e se transforma em grande velocidade.

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O compartilhamento de conhecimentos é uma prática antiga da humanidade, mas que se potencializou com a internet. No filme “A Guerra do Fogo”, que se passa na pré-história, uma tribo sofre para conseguir o fogo, que só era possível quando um raio provocava um incêndio. Em uma situação de desespero, quando a chama mantida pela tribo apagou, eles enviam um grupo em busca de fogo. Então, depois de muito sofrimento, esse grupo encontra algo mais valioso que o próprio fogo. Eles encontram uma integrante de outra tribo que detinha o conhecimento de como fazer fogo friccionando gravetos.

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O desenvolvimento da escrita permitiu a propagação de conhecimento entre indivíduos e entre gerações, traçando uma linha divisória entre pré-história e história e favorecendo de maneira decisiva o desenvolvimento da civilização. Conhecimento, arte e cultura passaram a ser registrados e difundidos. O surgimento da imprensa permitiu que o conhecimento fosse distribuido em larga escala. Os erros e acertos da humanidade ficaram registrados para a posteridade e as grandes descobertas e invenções eram compartilhadas entre aqueles que tinham acesso aos livros. Posteriormente a televisão deu vida às informações com sons e imagens e com ela surgiu uma poderosa industria de entretenimento. No entanto tudo isso tinha pouca ou nenhuma interatividade. O indivíduo era um receptor passivo. A interatividade já existia, mas de forma tímida e trabalhosa para o usuário final.

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Nos dias de hoje o conhecimento é transmitido pela internet através de textos, vídeos, imagens e sons. As dificuldades da busca pelo conhecimento se reduziram drasticamente graças ao compartilhamento global e a comunicação direta entre indivíduos. No entanto, através da internet, o conhecimento não é somente distribuído e compartilhado, ele é transformado rapidamente através da interatividade. Diferente do conhecimento transmitido por livros e pela televisão, o conhecimento difundido na internet é dinâmico. Um artigo ou vídeo que é publicado na internet pode receber críticas, elogios e sugestões de qualquer pessoa que tenha acesso.  O usuário final da informação deixou de ser um receptor passivo para se tornar um agente de transformação do conhecimento.

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Por outro lado podemos observar no ciberespaço uma extensão da manipulação que já acontecia com a televisão. Governos, partidos políticos, empresas e emissoras de televisão disseminam valores e ideias que atendem somente aos seus interesses. Apesar da grande interatividade proporcionada pela comunicação digital, a inteligência coletiva precisa da valorização e do amadurecimento do pensamento crítico para gerar benefícios para todos e separar o joio do trigo no oceano de informações do ciberespaço.

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Por fim, a inteligência coletiva só pode se desenvolver se existir a comunicação direta entre as pessoas, amadurecimento das formas de cooperação, equlíbrio entre colaboração e competição e a valorização do pensamento crítico. Sem esses fatores a internet é um campo livre para a disseminação de falsas informações e manipulação em massa. Será papel da inteligência coletiva a criação de uma consciência global que deve julgar o que é bom para todos.

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