As novas tecnologias imbecilizam?

Culpamos as tecnologias porque queremos tirar de nossas costas o peso de nossa responsabilidade. Televisão, internet, celulares e video-games são interpretados com “entidades” que alienam e viciam os jovens, como se essas tecnologias tivessem vida própria.   O fato, bem real, é que os jovens das grandes cidades estão ficando alienados. No entanto, culpar as tecnologias é reduzir um problema complexo para que, enfim satisfeitos e livres de culpa, possamos prosseguir com nossos julgamentos equivocados.

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Armando Levy, gestor de conteúdo da e-Press, faz a seguinte observação :

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“No entanto, o que parece se tornar evidente a cada dia que passa é o fator de alienação que se esconde no uso de Internet, pois a juventude, ao invés de questionar a corrupção no País ou a qualidade do ensino que recebe, parece preferir passar seu tempo em pseudo comunidades no Orkut ou Youtube comentando a capa que o cantor do último vídeo clipe estava usando”

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Portanto, a bobagem coletiva que vemos na internet é fruto de uma alienação que inicia nas escolas, nas casas e no governo. Talvez, até mesmo por conta de nossa educação, voltada para a produtividade, perdemos a capacidade de ver o  óbvio. E o óbvio é que por trás das tecnologias estão pessoas.  Supor que as tecnologias são culpadas é supor que uma arma consiga cometer um crime por conta própria.

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Pierre Levy fala sobre isso em seu livro Ciberculura :

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“Mesmo supondo que existam três “entidades” (cultura, tecnologia e sociedade), poderíamos igualmente pensar que a tecnologia é fruto de uma cultura e de uma sociedade. Não existe nenhum ator ou “causa” independente. Encaramos as tendências intelectuais como atores porque existem grupos humanos bastante reais que se organizam ao redor desses conceitos. Ou mesmo porque alguns desses grupos tentam nos fazer acreditar que um problema é “puramente técnico” , “puramente cultural” ou “puramente econômico”. As verdadeiras relações não são entre tecnologia e cultura, e sim entre um grande número de atores humanos que inventam, produzem, utilizam e  interpretam as tecnologias.”

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É mais fácil culpar essas “entidades” do que olhar para nossas falhas.  Não usamos o poder  da internet para combater a corrupção e o  descaso com a  educação.  Observamos a cultura da beleza,  da futilidade, da indivudualidade e da “auto-estima” tomar conta de nossa juventude, que aos poucos começa a perder seu senso crítico  e a seguir as “modas”  e  “tendências”, mascaradas de tribos e filosofias,   que são disseminadas através das mídias de massa.  Tudo isso tem uma singela lógica : vender produtos. E para vender produtos vale tudo, até mesmo alienar uma geração.

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Deixamos nossos filhos  em busca da “eficiência” e da “eficácia”,  buscamos a felicidade pessoal, perseguimos a magreza, a beleza e a riqueza em detrimento do verdadeiro convívio social.  Não cobramos nossos direitos e não cumprimos com nossos deveres.  Quando a sociedade apresenta os resultados dessa visão de mundo, dizemos que o problema está na televisão,  na internet, nos video-games ou seja lá o que for a “bola da vez”.