FILOSOFIA

O Paradoxo do Navio de Teseu e a identidade pessoal

O Paradoxo do navio de Teseu e a Identidade Pessoal

Se todas as peças de um navio fossem substituídas ao longo de suas viagens, ainda assim seria o mesmo navio? Da mesma forma, o ser humano permanece o mesmo após as profundas experiências de vida? Não se trata apenas de afirmar a constante mudança de tudo, mas também a mudança da própria identidade ao longo do tempo. Este é o Paradoxo do Navio de Teseu.

O paradoxo tem origem na lenda de Teseu. O navio que o herói usou em sua viagem de retorno de Creta até Atenas se modificou ao longo da viagem, tendo suas peças substituídas várias vezes. Outra versão afirma que os atenienses conservaram o navio de Teseu por 300 anos substituindo todas as suas peças. O fato é que a modificação e a identidade do navio tornaram-se um tema debatido desde os antigos filósofos gregos até hoje.

O filósofo grego Heráclito, no século VI a.C., formulou uma das frases mais conhecidas sobre esse tema: “O mesmo homem não se banha no mesmo rio, pois outras são as águas, e outro é o homem“. Tudo está em constante mudança (Panta Rei). Todavia, o homem deixou de ser totalmente quem era antes?

O filósofo Thomas Hobbes, no século XVII, tornou a questão ainda mais complexa: “Se todas as partes do navio original fossem substituídas, teríamos então dois navios de Teseu?”. Hobbes foi sutil ao sugerir uma situação em que, um estrangeiro que chegasse em Atenas para ver o famoso navio, ao saber que todas suas peças foram substituídas, pede que lhe levem até as peças antigas pois queria ver o “verdadeiro navio de Teseu”, mesmo restando apenas destroços.

O Paradoxo do Navio de Teseu mostra como é difícil determinar quando uma coisa se torna diferente. É uma reflexão sobre a relação entre a identidade e mudança, e provoca outras reflexões. Por exemplo: seríamos ainda a mesma pessoa se mudássemos nosso nome, aparência ou personalidade? Nossa real identidade é composta por memórias e crenças? Se levarmos em conta essas doutrinas espirituais de reencarnação, tendo nascido em novo corpo com nova história, ainda somos aquele que viveu antes? Sendo assim, teríamos uma essência ou alma que define nossa identidade?

O paradoxo do navio de Teseu é uma provocação sobre a natureza da identidade e sugere também que a identidade pessoal não é apenas uma realidade objetiva, como nome e características físicas, mas também uma realidade subjetiva que se modifica constantemente e nos convida a pensar sobre o que nos define de fato.

AutorAlfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.