O que é cibercultura?
A comunicação digital gerou um novo comportamento humano. A interação de milhões de pessoas de todos os horizontes através de um caótico mundo virtual criou novos valores, formas de pensar e manifestações artísticas. A cibercultura é esse conjunto de tranformações que ocorrem na sociedade e na cultura e que tem sua origem no desenvolvimento do ciberespaço.
Tanto o ciberespaço como a cibercultura não foram previstos nem mesmo pelos mais imaginativos escritores de ficção científica. Sua origem se deu da fusão de iniciativas isoladas de instituições e pessoas visionárias. Iniciou com a criação dos primeiros grandes computadores, passando pela popularização dos computadores pessoais, seguindo até a criação das primeiras redes de computadores e fusão das diferentes redes. Depois disso temos a impressão de que o mundo virtual criou vida própria. No entanto essa é uma falsa impressão. O fermento que faz crescer o ciberespaço é nossa necessidade de comunicação.
Um exemplo ilustrativo de mudança de comportamento ocorreu com a popularização do e-mail. Antigamente era aceitável que, ao enviar uma carta pelo correio, esperássemos até duas ou três semanas para receber a resposta. Atualmente, ao enviarmos uma mensagem, esperamos a resposta no mesmo dia. Nossa expectativa de obter uma resposta de alguém passou de semanas para horas ou minutos.
Partindo para um exemplo mais radical, o cientista brasileiro Miguel Nicolelis afirmou que no médio prazo não usaremos mais teclados e monitores. Em reportagem recente ao Jornal Estadão, ele afirmou que iremos submergir em sistemas virtuais e nos comunicaremos diretamente com as máquinas. No longo prazo, o corpo deixará de ser um fator limitante de nossa atuação no mundo. Nosso alto grau de interatividade com as máquinas iria então afetar a evolução humana.
Nas artes, a interatividade e a tecnologia inspiram artistas desde a década de 70. Um exemplo de artista brasileiro que utiliza interatividade e telepresença é Eduardo Kac. Suas obras de arte, revolucionárias e “estranhas” para os anos 80, permitiam que os visitantes interagissem com as obras de arte, fossem recebidos por robôs comandados a distância e conversassem entre sí através de quadros conectados. A arte digital difunde os novos conceitos da cibercultura e cumpre o seu papel de criticar os problemas modernos.
No entanto, a cibercultura também cria novos problemas. Aqueles que não tem acesso ao ciberespaço, que não dominam as tecnologias que abrem as portas para ele, se tornam os marginalizados da cibercultura, os excluídos. A velocidade do desenvolvimento tecnológico surpreende até mesmo os que se esforçam para se manter integrados à essa nova realidade. A exclusão aumenta ainda mais quando associada ao ciberespaço. Excluídos não são mais somente um grupo de pessoas. Podem ser cidades ou nações inteiras.
Infelzmente, mesmo nesse ambiente de liberdade e interação global, as possibilidades positivas da cibercultura se encontram ameaçadas. A grande interatividade humana proporcionada pela comunicação digital favorece a evolução da civilização e o surgimento de uma inteligência coletiva. O pensamento crítico, as manifestações artísticas e as ideias que surgem da interação humana no ciberespaço seriam os fatores responsáveis pela criação de novas soluções para os grandes problemas modernos. No entanto, sem a atuação da inteligência coletiva a cibercultura pode se tornar apenas um grande supermercado on-line e ferramenta de desinformação e manipulação, o que seria apenas uma reprodução em larga escala do que já ocorre nos dias de hoje através dos meios de comunicação tradicionais, como a televisão e o jornal.
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