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O exemplo da Primavera Árabe

O protesto é uma das grandes possibilidades da cultura digital. A Primavera Árabe nos mostrou que a sociedade pode e deve utilizar as novas mídias para se livrar de governantes corruptos.
As redes sociais contribuíram para a organização dos levantes populares no Egito,Tunísia, Síria, Líbia e Yemem entre 2010 e 2011. Esses países foram controlados durante décadas por ditaduras corruptas e violentas, que massacravam o povo enquanto seus governantes enriqueciam ilicitamente. Esses levantes, coordenados por cidadãos indignados, ficaram conhecidos como Primavera Árabe, e representam também uma vitória da organização da sociedade civil potencializada pelas redes horizontais de comunicação de massa, que são as novas mídias via internet e celular. A reportagem abaixo da TV Cultura ajuda a compreender esse importante acontecimento e eu a recomendo a todos que querem entender as possibilidades de protesto na cultura digital.
Entrevista com o professor Vitor Henrique Paro
Os assuntos tratados pelo professor Vitor refletem a atual situação da escola no Brasil e a nova relação do aluno com o conhecimento. Ele defende a ideia do professor como um incentivador, alguém que deve ajudar o aluno a se humanizar em uma sociedade que está se tornando cada vez mais desumana e tecnicista. Apesar de não tratar diretamente de cultura digital, podemos observar no discurso do professor o peso dos problemas modernos e o surgimento de um novo paradigma educacional: a escola como um espaço de desenvolvimento de valores e de inclusão social.
Podem as máquinas pensar? – Um experimento mental do filósofo John Searle.

No filme "Matrix", de 1999, Smith (que é um programa de computador) declara seu ódio aos humanos. Isso é possível? Pesquisadores da inteligência artificial (IA) afirmam que sim, mas o filósofo John Searle criou um experimento mental chamado "sala chinesa" para mostrar que computadores não podem pensar.
Esse é um tema muito explorado em filmes de ficção científica e discutido por aqueles que se perguntam aonde chegaremos com os avanços da inteligência artificial (IA), se é que existe tal inteligência. Marvin Minsky, um dos fundadores do MIT, afirmou que a próxima geração de computadores será tão inteligente que “teremos muita sorte se eles permitirem manter-nos em casa como animais de estimação”. John McCarthy, que cunhou o termo IA, declarou que “máquinas tão simples como termostatos têm — pode dizer-se — crenças”. Declarações deste tipo, feitas por cientistas renomados, estimulam a imaginação e assustam os incautos.
No entanto, o filósofo John Roger Searle encarou com sarcasmo essas expectativas exageradas e elaborou então um “experimento mental” para demonstrar que uma máquina não tem sequer a capacidade de compreender significados (semântica), apenas segue regras de sintaxe e responde a comandos pré-estabelecidos. O poder de processamento e a sofisticação dos programas nos dão a falsa impressão de inteligência.

O experimento mental desenvolvido por John Searle, chamado de "Sala Chinesa" tenta mostrar que computadores não podem pensar.
Searle chamou o nome desse experimento de “sala chinesa”. Ele pede que imaginemos uma pessoa, dentro de uma sala, que entende inglês e tem um livro com regras em inglês para combinar símbolos em chinês. Dentro da sala estão vários cestos numerados, e dentro dos cestos estão papéis com símbolos em chinês. Essa pessoa recebe, por baixo da porta, símbolos em chinês que ela não entende. Então ela consulta as regras que informam como ele deve combinar os símbolos e devolver por baixo da porta. As regras falam mais ou menos assim: “se o símbolo recebido for parecido com este, pegue o papel da cesta no. 13 e devolva por baixo da porta”. A pessoa dentro da sala não sabe, mas está respondendo perguntas em chinês. Nem ao menos sabe o significado dos símbolos, apenas tem uma regra para combinar os símbolos e devolvê-los por baixo da porta. Essa é a base do “pensamento” das máquinas.

Em "2001: Uma Odisséia no Espaço" o computador Hall 9000 reage à tentativa dos astronautas de desligá-lo
Esse exemplo nos mostra que o processamento dos computadores não pode ser comparado com a inteligência humana. O que renomados cientistas chamam de “Inteligência Artificial” é o resultado de entradas e saídas de dados realizadas de forma “burra”.
Computadores não tem capacidade de saber o que significam as palavras. Se eu falo para alguém a palavra “amor”, “ódio” ou “afeto”, essa pessoa lhes atribui significado e recorda situações de sua vida onde elas se aplicam. A inteligência humana leva em consideração esses significados e toma decisões baseadas em complexas interpretações pessoais. Isso é algo básico para qualquer ser humano e fundamental para o pensamento. É algo que as máquinas ainda não podem fazer.
Alfredo Carneiro

Este texto do Netmundi – Cibercultura, site de Alfredo Carneiro, foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.
Sebastian e a popularização da tecnologia

Enquanto o governo do Chile prometia fazer um sistema de alarme de terremotos, o garoto chileno Sebastian Alegria criou um com 200 dólares.
Como transformar a internet em uma poderosa ferramenta a serviço de todos? O pequeno Sebastian Alegria, do Chile, sabe como fazer isso. Ele tinha apenas a vontade de fazer e a percepção de que, com os recursos tecnológicos que dispunha, poderia fazer. Enquanto o governo do Chile fazia promessas, licitações e elaborava projetos para criar um sistema de alerta de terremotos, o garoto chileno já tinha feito um.
Sebastian faz parte de uma geração que cresceu acostumada a usar as tecnologias digitais. No entanto, diferente da grande maioria dos jovens que inundam o ciberespaço com bobagens, ele utilizou o twitter para criar um serviço de utilidade pública, um sistema de alarme de terremotos eficiente. Comprou e estudou um detector caseiro de atividade sísmica e uma placa Arduino para criar uma interface com seu computador. O resultado é um sistema que, a cada vez que o sismógrafo detecta qualquer movimento suspeito, dispara automaticamente alertas via twitter no perfil @AlarmaSismos. A engenhoca já foi capaz de detectar todos os grandes terremotos sentidos em Santiago desde maio de 2011 e custou aproximadamente 200 dólares.
Semelhante ao jovem brasileiro Rene Silva, o chileno Sebastian Alegria não esperou pelas ações lentas e burocráticas de seu governo. Ele saiu ferido do terremoto que aconteceu no Chile em 2010 e resolveu tomar uma atitude. Por mais simples que seja o sistema criado, tal sistema funciona muito bem. Esse exemplo mostra a vantagem da popularização da tecnologia. Uma boa ideia pode estar em qualquer lugar, baratear a tecnologia e compartilhar conhecimento possibilita o surgimento de grandes soluções.
Edgar Morin e a Educação na Era Planetária

Edgar Morin defende que as áreas de conhecimento possuem um "tecido comum", mas que, devido à forma como o ensino está organizado, esse tecido se torna invisível.
Considero esse vídeo de Edgar Morin, no final do post, muito importante para compreender o tipo de educação que é necessária na era digital. Suas ideias expressam um conceito fundamental para a educação que é totalmente ignorado na organização do ensino. Esse conceito é o “tecido comum que une os conhecimentos”. Quem já não ouviu alguem dizer: “para que vou estudar isso? não serve para nada”, ou “para que vou estudar isso, não tem nada a ver com meu curso”.
Observações como essas são o resultado da forma como o ensino está organizado, e que constitui uma das críticas de Morin, quando ele afirma que ” Aprendemos a analisar, separar mas não a relacionar e fazer com que as coisas se comuniquem”. Ele afirma que as disciplinas tem um tecido comum que as une, mas devido a separação se torna invisível.
Quando estudamos fazendo comparações e relações com outras coisas que sabemos, conseguimos entender melhor o objeto de nosso estudo. Existem relações entre matemática, biologia, astronomia e língua portuguesa. Mas a separação, sem a preocupação com arelação, torna o entendimento mais pobre. Até mesmo comparações absurdas tem validade para o aprendizado. Conversando com um amigo sobre o sistema solar, ele fez a seguinte observação : “o sistema solar é protegido por uma bolha local, gerada pelo sol, semelhante à membrana de uma célula de nosso corpo ou uma galinha que protege os ovos”.
Quando fui explicar para meu filho sobre a tal “bolha local”, disse que parecia com uma bolha de sabão, tendo o sol ao centro, e ele entendeu na hora. Traçamos a todo momento relações com outras coisas que sabemos e com nossa própria experiência, e isso é fundamental para o aprendizado e para um entendimento mais amplo.
Cultura e Cibercultura

A forma de conhecer outras culturas através das tecnologias digitais é diferente da que nos é oferecida pelas mídias de massa.
A cultura é entendida como o conjunto de costumes, crenças, comportamentos e leis que se manifestam em um determinado povo, isso quer dizer que toda cultura sempre tem um contexto muito bem definido. Todos os povos tem uma identidade cultural que é construída ao longo de sua história, e a cultura de um determinado povo afeta a percepção de mundo de seus habitantes. A diversidade cultural também ocorre dentro de uma cultura, como é o caso do Brasil, onde temos várias religiões e grupos sociais. Dessa forma, dentro de uma cultura encontramos diferentes pontos de vista e visões de mundo.
Com o advento das telecomunicações, indivíduos de várias culturas e gerações diferentes passaram a e dialogar e trocar experiências. A história está repleta de episódios onde ocorreu o encontro de culturas, o problema é que grande parte desses episódios foram marcados pela brutalidade, conflitos e dominação comandados por impérios e estados. E, mais recentemente, a percepção cultural de outros povos se dava (e ainda se dá) através da televisão, ou seja, ainda através de terceiros.
A cibercultura, por sua vez, é indiferente aos contextos e identidades culturais. Ela não representa a cultura de um determinado povo, no entanto liga pessoas de todas as culturas de forma indiscriminada. Isso torna a universalidade sua principal característica, e implica na percepção da alteridade , na mudança de costumes e na criação de novos pontos de vista. Isso se dá através do diálogo direto com pessoas que tem concepções distintas de mundo. Um jovem, conectado à internet, pode descobrir que existem outras formas possíveis de entender e representar o mundo através do diálogo. A palavra universalidade é utilizada aqui para se referir ao universo humano.
Isso não quer dizer que os velhos problemas que envolvem a alienação, o preconceito e o senso comum irão acabar, a conectividade das tecnologias digitais é indiferente a isso, mas essa interatividade representa uma possibilidade de conhecer o outro de forma mais rica e pessoal, sem os filtros comuns das mídias de massa ou da opinião alheia. Esse contato direto entre os indivíduos representa a novidade e a força da cibercultura.
Pesquisas indicam…
Os debates nos fóruns, grupos de estudos e comunidades virtuais, onde pessoas de todos os horizontes podem participar, é uma das grandes vantagens das mídias sociais. Não estou considerando aqui aqueles debates virulentos que acabam quase sempre em xingamentos (muito comuns hoje em dia), mas aqueles onde as pessoas se reúnem para aprender, transmitir conhecimentos e buscar soluções. Esse é o início da inteligência coletiva e da exploração do contexto individual. No entanto, existe um vício na argumentação dos debates que está se tornando muito comum, que é querer criar força de argumentação afirmando que “uma pesquisa realizada mostrou que…”, ou algo parecido.
Portanto, quem quer dar força para sua argumentação e contribuir de fato, deve utilizar outra vantagem da internet, que é o hiperlink. Quem apenas escreve que “conforme pesquisa realizada recentemente” e não utiliza o hiperlink comete uma falácia. Mais especificamente a falácia do Apelo à Autoridade Anônima.
Se o hiperlink não for possível, a pesquisa deve ser citada para quem quiser procurar, como em “pesquisa publicada pela SafeNet Brasil dia 9 de outubro de 2011…”. Um exemplo de argumentação correta é: “Estudo recente indicou que a internet está reduzindo a capacidade de memorização dos internautas“.
Dessa forma, fica explícito que a informação tem uma fonte e, melhor ainda, que pode ser acessada imediatamente por todos. Quem argumenta utilizando hiperlink enriquece o discurso e cria novas conexões para o assunto, transformando a internet em uma teia de conhecimentos que se renova a cada dia com o trabalho coletivo.
Internet e o Princípio de Pareto
Que atire a primeira pedra quem nunca ligou o computador somente para ler um e-mail e passou horas navegando. Na era digital é comum ouvir reclamações sobre a falta de tempo para ler todas as novidades ou se atualizar. O universo de informações do ciberespaço é como uma armadilha que prende nossa atenção por horas e horas. Um link leva a outro e depois a outro e assim por diante. A internet se transformou em um buraco negro que suga o nosso tempo. No entanto, quanto de nossa navegação gera resultados práticos para nosso cotidiano? Temos a impressão que é a tecnologia que nos usa, e não o contrário, como deveria ser.
Ironicamente, em uma época de explosão de informações, parece que não existe um debate amadurecido sobre o uso correto das tecnologias digitais. Pior ainda, existe um culto à essas tecnologias. Isso é muito claro nas imensas filas que surgem quando do lançamento de algum novo produto da Apple, para citar um exemplo. As pessoas se tornaram fãs de máquinas. Uma investigação feita para um documentário da BBC chegou a conclusão que o culto à Apple se assemelha a religião. Quando isso acontece, corremos o risco de esquecer que a tecnologia é um meio, e não um fim.
O que devemos ter em mente, acredito, é que as tecnologias surgiram e se desenvolveram para nos ajudar a superar nossas limitações e dificuldades. Mas, a impressão geral é que estamos aos poucos fazendo coisas que não têm relação com esse objetivo, o que é um desperdício dado o enorme poder da tecnologia digital. De acordo com o Princípio de Pareto, 80% dos resultados são provenientes de apenas 20% das causas. Grosso modo, isso quer dizer que apenas 20% do que fazemos é o que gera 80% do que conseguimos. Mas, parece que, na internet, as pessoas estão muito ocupadas fazendo 80% das coisas que dão poucos resultados.
Então, como identificar quais as atividades que se enquadram nos 20% que geram resultados? Essa não é uma resposta simples, uma vez que está baseada em nossos objetivos pessoais. No entanto, se é difícil identificar nossas tarefas mais importantes, talvez não seja tão complicado identificar as que nos atrapalham, aquelas que representam os 80%. Um pouco de observação deve dar algumas respostas. E-mails de correntes, “vídeos imperdíveis”, chats, video games e todo tipo de leituras e distrações que surgem quando navegamos.
Isso não quer dizer que devemos parar fazer essas coisas, mas sim perceber quando elas roubam nosso tempo e nos afastam de nossas metas. O uso correto da tecnologia deve se tornar um debate cada vez mais importante, agora que, mais do que nunca, a tecnologia digital está se tornando universal. Se soubermos utilizar corretamente nossos recursos tecnológicos e o nosso precioso tempo, então poderemos nos divertir na internet e brincar com nossos queridos gadgets.
Vídeo sobre a cultura digital no Brasil
Este pequeno documentário fala sobre cultura livre e cultura digital no Brasil. Achei o vídeo um tanto ingênuo e otimista demais. No entanto, alguns entrevistados conseguiram falar com clareza sobre a produção coletiva de conteúdo, além de citar exemplos de protestos na rede que deram resultados positivos.
Digirealejotal from FLi Multimídia on Vimeo.
Tecnologia e Educação
A internet como ferramenta de ensino é uma das promessas mais interessantes das tecnologias digitais. No entanto, sua utilização ainda depende da conscientização de professores e alunos e do uso correto de ferramentas de aprendizagem. Não basta distribuir computadores para todos, é preciso criar conteúdos específicos, softwares educativos e, principalmente, saber utilizar corretamente tais recursos. Os casos de sucesso de uso da tecnologia na educação foram sempre precedidos por estratégias de ensino, enquanto que os casos de insucesso partiram da premissa de que bastaria distribuir computadores. Nesse debate sobre o uso dos recursos tecnológicos surge um novo tipo de educador, aquele que ensina a utilizar corretamente a tecnologia.
Existem ainda muitos professores que criticam a internet como fonte de pesquisa, falam que a maioria dos alunos copiam e colam os textos e não desenvolvem o pensamento próprio, ou que as informações da internet não são confiáveis. Ao afirmar isso, o educador critica a sí próprio, pois com a universalização da internet o professor deverá assumir a função de orientar e incentivar seus alunos a tirar o melhor proveito possível em suas pesquisas na rede. Enquanto alguns criticam, outros olham mais longe. Podemos observar cada vez mais o crescimento de video-aulas na internet. Muitos professores estão descobrindo a importância de gravar vídeos de apoio para seus alunos e utilizar fóruns para tirar dúvidas após as aulas. O professor passa a ser também um criador de conteúdo.
É fato que hoje muitos jovens passam horas em redes sociais e video-games, ou utilizando a internet para fazer todo tipo de bobagem. Mais uma vez as coisas se confundem e cria-se a falsa ideia de que a alienação dos jovens é culpa da tecnologia, que acaba sendo vista como uma entidade separada do humano, como um monstro nocivo. A verdade é que os problemas de alienação que observamos são fruto do mau uso da tecnologia, levando em consideração o raciocínio simplório de que a tecnologia não faz nada por sí só. Nas redes sociais os jovens mais se ofendem do que argumentam, o que vem a ser outro reflexo da educação deficiente.
Dessa forma, não adianta equipar as salas de aulas com tablets, lousa interativa ou notebooks. Se a sala de aula não funciona da forma tradicional, não funcionará com dispositivos eletrônicos. Uma boa estratégia de ensino funciona bem com ou sem tecnologia. Mas, para aqueles que adotam tecnologia com estratégia, os resultados têm sido satisfatórios.
Infelizmente, poucos podem participar desse debate. Escrevo esse texto consciente da situação de nossas escolas públicas e da luta diária de nossos professores. Não podemos exigir que nossos educadores façam cada vez mais com menos recursos. Resta a conclusão cruel de que uma educação eficiente e que oriente os alunos a usar corretamente a tecnologia é um privilégio de poucos jovens, aqueles que podem frequentar as melhores escolas privadas. Não adianta atualizar professores se os alunos mal têm acesso a internet nas escolas e em suas casas. Caso nossos políticos não se comprometam seriamente com a educação, teremos o agravamento da exclusão digital e uma geração inteira utilizando tecnologia para fazer bobagens, e não para servir a todos e ao futuro.
