Archive for the ‘Sociedade’ Category

Medianeras: uma crítica à sociedade conectada

O filme Medianeiras aborda o problema dos relacionamentos na era digital. Apesar do grande aparato tecnológico que nos uniu, não saímos mais do mesmo lugar. Essa ironia é muito bem trabalhada no filme, que propositalmente tem uma “monotonia preguiçosa”, a mesma monotonia que invade os dias do cidadão urbano. É uma crítica ao nosso comportamento atual, esvaziado de sentido, sem um propósito mais amplo ou profundo. O filme propõe uma solução romântica: o amor. Nesse ponto acredito que o filme tornou-se “água com açúcar”, a despeito da excelente critica à vida urbana e aos relacionamentos pela internet. Mesmo assim o filme é bom, muito simbólico e bem feito.

No entanto, a busca pelo amor pode tornar-se fonte de angústias, pois acaba transformando-se, como tudo nos dias de hoje, em compromisso (ser obrigado a encontrar alguém). Ou simplesmente, caso se encontre o amor, em paliativo para a solidão, um companheiro para a monotonia.

Este esvaziamento de sentido parece fazer parte de nosso cotidiano, recheado de pequenos lutos insignificantes ( lamenta-se a perda do guarda-chuva).  O resultado é um comportamento medíocre, que se ressente de pequenas coisas. No final das contas, nossa vida torna-se tão desordenada e irracional quanto o crescimento das cidades.

A modernidade parece apresentar-se muito bem nesse filme, onde nossa vida se integra com as máquinas, mostrando que caímos na armadilha de confundir a ideia mecanicista com o próprio ser humano, retirando nossa profundidade e nos tornando, nós mesmos, máquinas.

O lado negro da tecnologia

Darth Vader : O lado negro da tecnologiaA tecnologia é responsável pela criação de dispositivos eficientes que tornam nossa vida mais confortável. Este é o lado bom da tecnologia e isso é inegável. Qualquer um pode constatar isso diariamente quando utiliza os vários tipos de tecnologias que nos cercam: ônibus, carro, motos, celulares, computadores, internet, calculadoras, relógios, etc. No entanto, nosso convívio excessivo com a tecnologia internaliza a ideia de que tudo deve ser um instrumento útil. Esta é a lógica desta época de alta tecnologia, e o lado negro dessa ideia é que as pessoas também estão se tornando dispositivos que devem ser úteis e servir a algum propósito, caso contrário devem ser descartadas.

Um video que estimula a reflexão sobre o avanço da tecnologia

Este vídeo criado pela agência  Box1824 retrata  as mudanças de paradigma que ocorreram nas últimas décadas, principalmente no trabalho. É um ótimo vídeo para perceber como nossa  forma de trabalhar e se relacionar mudou radicalmente com o avanço da tecnologia.

Amizade on/off

on off buttonA amizade é uma experiência que engrandece. Aprendemos a nos conhecer e respeitar o outro, exercitamos nossa compreensão e tolerância.  Não é exagero afirmar que a amizade é um caminho de auto-conhecimento, algo que nos torna melhores.  A amizade virtual, por outro lado, nos priva dessa convivência enriquecedora,  pois a comodidade de excluir de nossos contatos aqueles que nos desagradam torna o relacionamento uma coisa instrumental, eletrônica, tal como desligar uma televisão ou trocar de canal.  É inquestionável a importância das redes sociais, mesmo porque através dela podemos fazer amizades “reais” , no entanto,  ainda não conhecemos os impactos do excesso de instrumentalização nos relacionamentos, principalmente para as novas gerações.

A evolução dos Hackers

Hackers na MídiaA era digital criou o mito do hacker. O conceito de hacker, desde seu surgimento até os dias de hoje, se modificou de acordo com as interpretações das mídias de massa. Inicialmente associado a nerds anti-sociais e ao crime, o conceito se ampliou e suas classificações aumentaram (phreakers, hackers, crackers, hackers do bem, hackers do mal, etc..). Mais recentemente, devido à atuação do grupo Anonymous, os hackers entraram definitivamente no universo da militância e do protesto. Esta reportagem do Estadão fala da evolução dos hackers na mídia e é um ótimo texto para todos que querem entender melhor a cultura digital.

A internet e os perigos do subjetivismo

Umberto Eco e a Internet

Umberto Eco alerta para a falta de critérios e subjetivismo na formação da realidade, e afirma que a internet é um campo propício para isso.


Umberto Eco alertou para o perigo do subjetivismo-individualismo na formação de crenças sobre o mundo em entrevista publicada no livro Entrevistas Sobre o Fim dos Tempos. Segundo ele, a internet seria um campo propício para a formação de opiniões alienantes e perigosas, baseadas em análises superficiais dos fatos. O trecho abaixo, retirado do livro, é um convite à reflexão.


Eu queria lhe dar um exemplo talvez um pouco extremo, mas que me parece esclarecedor. Qual é, no quadro da historiografia contemporânea, a diferença entre um revisionista e um negacionista? O revisionista está de acordo no atacado com o julgamento da coletividade sobre o que se passou, mas pretende corrigir alguns detalhes. Para ele não houve 6 milhões de mortos nos campos de extermínio, mas 5,5 milhões; ou então contesta o fato de ter havido câmaras de gás no campo etc. Existe mesmo uma historiografia revisionista que não diz respeito à Shoah mas a outros acontecimentos, por exemplo a Guerra Civil Espanhola. O revisionista não nega o que sucedeu, nem as responsabilidades de Franco, mas apenas quer avaliar diferentemente o papel dele, sustenta por exemplo que Franco não era fascista mas somente anticomunista… Pode discutir ao infinito, sobre a base de fatos e de critérios que são aceitos pelas duas partes envolvidas.

O negacionista, ao contrário, é aquele que “revisionou” a história da Segunda Guerra Mundial em seu conjunto. Não reconhece o julgamento da coletividade: nega-o categoricamente. Nega a existência das câmaras de gás. Se a coletividade lhe apresenta documentos, ele decide que o modo como ela valida os documentos não é o seu. Segundo ele, ou a coletividade se engana, ou é manipulada. Isto é, ele junta de maneira pessoal todos os elementos de informação que circulam na enciclopédia histórica, deixa de lado alguns, dá mais importância a outros; não segue os critérios coletivos, segue seus próprios critérios. Ora. esta lógica perversa, que é a de uma minoria de fanáticos, poderia um dia se tornar a lógica da Web. Cada um produziria seus próprios critérios para selecionar a informação. É a história à la carte… No dia em que toda norma comum desaparecer porque cada um poderá inventar sua própria leitura dos acontecimentos históricos e científicos, não restará mais nenhuma base comum para escorar nossa aventura coletiva.

Entrevista com Saramago: A tecnologia digital e o mito da caverna

A caverna moderna de PlatãoNesta entrevista José Saramago fez uma comparação entre o mito caverna de Platão e o mundo moderno. Acho que essa comparação tem utilidade, uma vez que nos mostra, através de uma alegoria, como a tecnologia pode nos aprisionar. Estamos frequentemente hipnotizados na frente da televisão e do computador. Tal como os habitantes da caverna, estamos sentados olhando para as sombras na parede e as confundindo com o mundo.





Eduardo Kac e o futuro

Interfaces de Eduardo Kac

Eduardo Kac é um artista brasileiro que une arte, ciência e tecnologia. Seus trabalhos são visionários e antecipam o futuro da relação do homem com a tecnologia digital e a engenharia genética.

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As tecnologias digitais influenciaram profundamente nosso comportamento. Redes sociais conectam a todos, mídias de massa perdem espaço para internet, pessoas ficam viciadas em tecnologia e games, crianças aprendem a ler em tablets e músicos ficam famosos sem o intermédio de gravadoras. Parte de nosso mundo se tornou ciberpunk , e arte não poderia ficar de fora.

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Edurado Kac é um artista brasileiro que já explorava a tecnologia digital antes mesmo da popularização da internet. Seus trabalhos interativos procuram  causar impacto e estimular a curiosidade. Suas primeiras obras são de 1985, onde ele utilizou o videotexto. As pessoas podiam acessar um terminal,  visualizar páginas de texto e mandar mensagens para outras pessoas. Hoje todos nós enviamos mensagens de celular e navegamos na internet, mas poucos perceberam as profundas mudanças que isso causou na sociedade. No entanto, naquela época Kac já percebia esse futuro.

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Na obra "O Oitavo Dia", Kac mandou alterar geneticamente pequenos animais e plantas, tornando-os fluorescentes. Isso é certo? São perguntas desse tipo que a arte tecnológica deve estimular.

Hoje esse artista explora também a engenharia genética, e nos adianta um mundo onde poderemos brincar com isso da mesma forma que brincamos hoje com a eletrônica.  Kac mandou alterar geneticamente um coelho, tornando-o fluorescente, que foi batizado de Alba e causou polêmica. Criou também um kit para manipulação genética.  Mais uma vez as pessoas se espantam com o óbvio, com algo que está acontecendo bem na nossa frente e não percebemos.

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Uma das funções da arte nos dias de hoje é  não deixar que as coisas aconteçam sem que nós possamos perceber.  Devemos olhar para a arte tecnológica como uma possibilidade de realização futura, e decidir se queremos esse futuro ou não.  Kac nos convida a refletir sobre o futuro e imaginar como a ciência e a tecnologia irão afetar nossas vidas e quais as suas implicações morais e éticas.

“A gente somos inútil”?

protesto da primavera árabe

Em 2011 o mundo se impressionou com a Primavera Árabe, onde uma avalanche de pessoas indignadas derrubaram ditadores. No Brasil, mesmo com nossos graves problemas de corrupção, só se consegue reunir milhões de pessoas em eventos como a parada gay.

O ano de 2011 foi muito importante para aqueles que acreditam nas possibilidades da cultura digital. A Primavera Árabe nos mostrou que a sociedade civil pode se organizar e derrubar regimes ditatoriais e a Islândia está escrevendo sua nova constituição consultando seus cidadãos através das mídias sociais. O público está se conscientizando que o mundo virtual pode influenciar o mundo “real” e está usando esse poder para mudar as coisas. Enquanto isso nós, brasileiros, nos concentramos em fazer coisas inúteis na internet.

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Nossa cultura digital ainda tem muito o que amadurecer, principalmente no que diz respeito à crítica e ao protesto. Um exemplo foi a campanha “Lula se trate no SUS“, que chegou a ganhar capa de revistas e vários artigos na imprensa. Se temos esse poder para fazer uma ofensa se tornar viral e chegar à imprensa “oficial”, por que não utilizamos esse poder para fazer algo verdadeiramente útil?

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Somos fanáticos por novela, futebol e cerveja (ou pelo menos somos condicionados a isso). Utilizamos Twitter para fazer campanhas do tipo “Cala boca Galvão” ou “Lula se trate no SUS”, enviamos milhões de votos para eliminar um participante do Big Brother, mas somos incapazes de fazer campanha para acabar com aberrações como o voto secreto, que manteve no poder pessoas como Jaqueline Roriz, entre outras coisas absurdas que acontecem na política de nosso país.

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Essas campanhas mostram que ainda não temos consciência das novas possibilidades, ou não estamos interessados em ter. Somos insatisfeitos e reclamamos de tudo, mas não nos organizamos para realizar protestos ou tentar mudar aquilo que nos deixa indignados. E quando conseguimos organizar uma passeata, é de forma tão tímida que os políticos nem levam em consideração e sentem-se à vontade para continuar a  fazer o que fazem melhor: trabalhar em prol de si mesmos. Para piorar, a parada gay de SP reuniu perto de 4 milhões de pessoas, o que mostra que temos muito mais disposição para a diversão do que para a cidadania.

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Temos no Brasil uma democracia representativa, ou seja, elegemos políticos que nos representam na defesa de nossos interesses. Todos sabemos que isso não funciona bem no Brasil, e a solução não é mudar o sistema, e sim reformá-lo. Devemos continuar elegendo nossos representantes (no passado lutamos para ter esse direito), no entanto devemos também participar efetivamente da democracia, e não somente de quatro em quatro anos. A novidade é que agora temos vários canais de comunicação para manifestar nossa indignação e fiscalizar nossos representantes.

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Jaqueline Roriz

Mesmo com um flagrante de corrupção filmado e postado no youtube, a deputada Jaqueline Roriz foi inocentada pelos colegas com a argumentação de que o filme foi feito antes de Jaqueline ser eleita. Na verdade, o dinheiro foi dado pelo ex-governador Arruda para ajudar na campanha em troca de apoio após as eleições. As passeatas tímidas em Brasília não assustaram os políticos.

Hoje podemos publicar filmes, textos e imagens livremente. O prefeito disse que fez muita coisa? mostre para o público filmes e fotos das ruas esburacadas e hospitais sem médicos. A deputada foi pega com a “boca na botija” enchendo a bolsa imunda com o nosso dinheiro? foi filmado e postado no youtube? Então por que essa meliante ainda está nos representando? Assim como ocorreu com a Primavera Árabe, devemos utilizar as redes sociais para organizar protestos, e não paradas gays.

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Está na hora de agir, de utilizar a tecnologia digital para consolidar no Brasil uma democracia representativa, de deixar a passividade de lado e se conscientizar que temos nas mãos mecanismos para fiscalizar nossos representantes. Devemos voltar nossa atenção  para nossos representantes, para fiscalizar e cobrar. Para que isso aconteça, falta apenas que o Brasileiro aprenda a fazer coisas úteis com sua conectividade. É nossa vida que está em jogo, nossos empregos,  a educação de nossos filhos, a segurança de nossas ruas e a melhoria de nossas cidades. Um participante do Big Brother não pode ser mais importante do que isso.

Alfredo Carneiro

Licença Creative Commons
O texto “A gente somos inútil”? de Alfredo de Moraes Rêgo Carneiro foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição 3.0 Não Adaptada. Você pode distribuir, reproduzir, adaptar e fazer uso comercial desde que cite o autor.

Tecnologia ou Metodologia?

Participei de um fórum, da Universidade Católica de Brasília, onde foi debatida a importância da tecnologia na educação. Em um dos posts foi colocada a charge abaixo, satirizando o uso da tecnologia na sala de aula. Muitos entendem o vídeo como uma crítica à tecnologia. No entanto, eu não o vejo como uma crítica ao uso de recursos tecnológicos no ensino, e sim à forma como a tecnologia é utilizada. Abaixo do vídeo segue a minha participação no fórum, onde expressei a minha opinião sobre o assunto.

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Boa noite caros colegas,

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Eu concordo em parte com a divertida charge sugerida. Claro que sem a metodologia correta a tecnologia de nada adiantará, afinal, livros quadros, giz e computadores são todos tecnologias.

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Uma pesquisa publicada na revista Época no.683, de 20 de junho de 2011, sugere justamente isso. Vários computadores foram distribuídos em escolas públicas, sem metologia ou plano de ensino, e o resultado foi que os alunos tiveram o rendimento prejudicado.

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No entanto, outras pesquisas publicadas na mesma edição da revista apontaram que escolas que tinham um planejamento para a tecnologia obtiveram resultados melhores que o esperado.

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Quando falo de “novas tecnologias” não me refiro apenas à tecnologia desconectada, mas a todo um processo de convergência tecnológica que está ocorrendo, ligando pessoas de todos os horizontes através de tecnologias digitais.

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O perigo do estudante não ter acesso a esse tipo de tecnologia é ele ficar de fora do processo de aprendizado e autoria coletiva que está acontecendo, onde nós, desse fórum, somos um exemplo.

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Desta forma, minha resposta para a pergunta inicial da charge (Metodologia ou Tecnologia?) é : metodologia e tecnologia, pois uma sem a outra não são mais possíveis.

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