“A gente somos inútil”?

protesto da primavera árabe

Em 2011 o mundo se impressionou com a Primavera Árabe, onde uma avalanche de pessoas indignadas derrubaram ditadores. No Brasil, mesmo com nossos graves problemas de corrupção, só se consegue reunir milhões de pessoas em eventos como a parada gay.

O ano de 2011 foi muito importante para aqueles que acreditam nas possibilidades da cultura digital. A Primavera Árabe nos mostrou que a sociedade civil pode se organizar e derrubar regimes ditatoriais e a Islândia está escrevendo sua nova constituição consultando seus cidadãos através das mídias sociais. O público está se conscientizando que o mundo virtual pode influenciar o mundo “real” e está usando esse poder para mudar as coisas. Enquanto isso nós, brasileiros, nos concentramos em fazer coisas inúteis na internet.

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Nossa cultura digital ainda tem muito o que amadurecer, principalmente no que diz respeito à crítica e ao protesto. Um exemplo foi a campanha “Lula se trate no SUS“, que chegou a ganhar capa de revistas e vários artigos na imprensa. Se temos esse poder para fazer uma ofensa se tornar viral e chegar à imprensa “oficial”, por que não utilizamos esse poder para fazer algo verdadeiramente útil?

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Somos fanáticos por novela, futebol e cerveja (ou pelo menos somos condicionados a isso). Utilizamos Twitter para fazer campanhas do tipo “Cala boca Galvão” ou “Lula se trate no SUS”, enviamos milhões de votos para eliminar um participante do Big Brother, mas somos incapazes de fazer campanha para acabar com aberrações como o voto secreto, que manteve no poder pessoas como Jaqueline Roriz, entre outras coisas absurdas que acontecem na política de nosso país.

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Essas campanhas mostram que ainda não temos consciência das novas possibilidades, ou não estamos interessados em ter. Somos insatisfeitos e reclamamos de tudo, mas não nos organizamos para realizar protestos ou tentar mudar aquilo que nos deixa indignados. E quando conseguimos organizar uma passeata, é de forma tão tímida que os políticos nem levam em consideração e sentem-se à vontade para continuar a  fazer o que fazem melhor: trabalhar em prol de si mesmos. Para piorar, a parada gay de SP reuniu perto de 4 milhões de pessoas, o que mostra que temos muito mais disposição para a diversão do que para a cidadania.

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Temos no Brasil uma democracia representativa, ou seja, elegemos políticos que nos representam na defesa de nossos interesses. Todos sabemos que isso não funciona bem no Brasil, e a solução não é mudar o sistema, e sim reformá-lo. Devemos continuar elegendo nossos representantes (no passado lutamos para ter esse direito), no entanto devemos também participar efetivamente da democracia, e não somente de quatro em quatro anos. A novidade é que agora temos vários canais de comunicação para manifestar nossa indignação e fiscalizar nossos representantes.

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Jaqueline Roriz

Mesmo com um flagrante de corrupção filmado e postado no youtube, a deputada Jaqueline Roriz foi inocentada pelos colegas com a argumentação de que o filme foi feito antes de Jaqueline ser eleita. Na verdade, o dinheiro foi dado pelo ex-governador Arruda para ajudar na campanha em troca de apoio após as eleições. As passeatas tímidas em Brasília não assustaram os políticos.

Hoje podemos publicar filmes, textos e imagens livremente. O prefeito disse que fez muita coisa? mostre para o público filmes e fotos das ruas esburacadas e hospitais sem médicos. A deputada foi pega com a “boca na botija” enchendo a bolsa imunda com o nosso dinheiro? foi filmado e postado no youtube? Então por que essa meliante ainda está nos representando? Assim como ocorreu com a Primavera Árabe, devemos utilizar as redes sociais para organizar protestos, e não paradas gays.

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Está na hora de agir, de utilizar a tecnologia digital para consolidar no Brasil uma democracia representativa, de deixar a passividade de lado e se conscientizar que temos nas mãos mecanismos para fiscalizar nossos representantes. Devemos voltar nossa atenção  para nossos representantes, para fiscalizar e cobrar. Para que isso aconteça, falta apenas que o Brasileiro aprenda a fazer coisas úteis com sua conectividade. É nossa vida que está em jogo, nossos empregos,  a educação de nossos filhos, a segurança de nossas ruas e a melhoria de nossas cidades. Um participante do Big Brother não pode ser mais importante do que isso.

Alfredo Carneiro

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O texto “A gente somos inútil”? de Alfredo de Moraes Rêgo Carneiro foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição 3.0 Não Adaptada. Você pode distribuir, reproduzir, adaptar e fazer uso comercial desde que cite o autor.