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O lado negro da tecnologia
A tecnologia é responsável pela criação de dispositivos eficientes que tornam nossa vida mais confortável. Este é o lado bom da tecnologia e isso é inegável. Qualquer um pode constatar isso diariamente quando utiliza os vários tipos de tecnologias que nos cercam: ônibus, carro, motos, celulares, computadores, internet, calculadoras, relógios, etc. No entanto, nosso convívio excessivo com a tecnologia internaliza a ideia de que tudo deve ser um instrumento útil. Esta é a lógica desta época de alta tecnologia, e o lado negro dessa ideia é que as pessoas também estão se tornando dispositivos que devem ser úteis e servir a algum propósito, caso contrário devem ser descartadas.
Tecnologia ou Metodologia?
Participei de um fórum, da Universidade Católica de Brasília, onde foi debatida a importância da tecnologia na educação. Em um dos posts foi colocada a charge abaixo, satirizando o uso da tecnologia na sala de aula. Muitos entendem o vídeo como uma crítica à tecnologia. No entanto, eu não o vejo como uma crítica ao uso de recursos tecnológicos no ensino, e sim à forma como a tecnologia é utilizada. Abaixo do vídeo segue a minha participação no fórum, onde expressei a minha opinião sobre o assunto.
Boa noite caros colegas,
Eu concordo em parte com a divertida charge sugerida. Claro que sem a metodologia correta a tecnologia de nada adiantará, afinal, livros quadros, giz e computadores são todos tecnologias.
Uma pesquisa publicada na revista Época no.683, de 20 de junho de 2011, sugere justamente isso. Vários computadores foram distribuídos em escolas públicas, sem metologia ou plano de ensino, e o resultado foi que os alunos tiveram o rendimento prejudicado.
No entanto, outras pesquisas publicadas na mesma edição da revista apontaram que escolas que tinham um planejamento para a tecnologia obtiveram resultados melhores que o esperado.
Quando falo de “novas tecnologias” não me refiro apenas à tecnologia desconectada, mas a todo um processo de convergência tecnológica que está ocorrendo, ligando pessoas de todos os horizontes através de tecnologias digitais.
O perigo do estudante não ter acesso a esse tipo de tecnologia é ele ficar de fora do processo de aprendizado e autoria coletiva que está acontecendo, onde nós, desse fórum, somos um exemplo.
Desta forma, minha resposta para a pergunta inicial da charge (Metodologia ou Tecnologia?) é : metodologia e tecnologia, pois uma sem a outra não são mais possíveis.
Tecnologia e Educação
A internet como ferramenta de ensino é uma das promessas mais interessantes das tecnologias digitais. No entanto, sua utilização ainda depende da conscientização de professores e alunos e do uso correto de ferramentas de aprendizagem. Não basta distribuir computadores para todos, é preciso criar conteúdos específicos, softwares educativos e, principalmente, saber utilizar corretamente tais recursos. Os casos de sucesso de uso da tecnologia na educação foram sempre precedidos por estratégias de ensino, enquanto que os casos de insucesso partiram da premissa de que bastaria distribuir computadores. Nesse debate sobre o uso dos recursos tecnológicos surge um novo tipo de educador, aquele que ensina a utilizar corretamente a tecnologia.
Existem ainda muitos professores que criticam a internet como fonte de pesquisa, falam que a maioria dos alunos copiam e colam os textos e não desenvolvem o pensamento próprio, ou que as informações da internet não são confiáveis. Ao afirmar isso, o educador critica a sí próprio, pois com a universalização da internet o professor deverá assumir a função de orientar e incentivar seus alunos a tirar o melhor proveito possível em suas pesquisas na rede. Enquanto alguns criticam, outros olham mais longe. Podemos observar cada vez mais o crescimento de video-aulas na internet. Muitos professores estão descobrindo a importância de gravar vídeos de apoio para seus alunos e utilizar fóruns para tirar dúvidas após as aulas. O professor passa a ser também um criador de conteúdo.
É fato que hoje muitos jovens passam horas em redes sociais e video-games, ou utilizando a internet para fazer todo tipo de bobagem. Mais uma vez as coisas se confundem e cria-se a falsa ideia de que a alienação dos jovens é culpa da tecnologia, que acaba sendo vista como uma entidade separada do humano, como um monstro nocivo. A verdade é que os problemas de alienação que observamos são fruto do mau uso da tecnologia, levando em consideração o raciocínio simplório de que a tecnologia não faz nada por sí só. Nas redes sociais os jovens mais se ofendem do que argumentam, o que vem a ser outro reflexo da educação deficiente.
Dessa forma, não adianta equipar as salas de aulas com tablets, lousa interativa ou notebooks. Se a sala de aula não funciona da forma tradicional, não funcionará com dispositivos eletrônicos. Uma boa estratégia de ensino funciona bem com ou sem tecnologia. Mas, para aqueles que adotam tecnologia com estratégia, os resultados têm sido satisfatórios.
Infelizmente, poucos podem participar desse debate. Escrevo esse texto consciente da situação de nossas escolas públicas e da luta diária de nossos professores. Não podemos exigir que nossos educadores façam cada vez mais com menos recursos. Resta a conclusão cruel de que uma educação eficiente e que oriente os alunos a usar corretamente a tecnologia é um privilégio de poucos jovens, aqueles que podem frequentar as melhores escolas privadas. Não adianta atualizar professores se os alunos mal têm acesso a internet nas escolas e em suas casas. Caso nossos políticos não se comprometam seriamente com a educação, teremos o agravamento da exclusão digital e uma geração inteira utilizando tecnologia para fazer bobagens, e não para servir a todos e ao futuro.
As novas tecnologias imbecilizam?
Culpamos as tecnologias porque queremos tirar de nossas costas o peso de nossa responsabilidade. Televisão, internet, celulares e video-games são interpretados com “entidades” que alienam e viciam os jovens, como se essas tecnologias tivessem vida própria. O fato, bem real, é que os jovens das grandes cidades estão ficando alienados. No entanto, culpar as tecnologias é reduzir um problema complexo para que, enfim satisfeitos e livres de culpa, possamos prosseguir com nossos julgamentos equivocados.
Armando Levy, gestor de conteúdo da e-Press, faz a seguinte observação :
“No entanto, o que parece se tornar evidente a cada dia que passa é o fator de alienação que se esconde no uso de Internet, pois a juventude, ao invés de questionar a corrupção no País ou a qualidade do ensino que recebe, parece preferir passar seu tempo em pseudo comunidades no Orkut ou Youtube comentando a capa que o cantor do último vídeo clipe estava usando”
Portanto, a bobagem coletiva que vemos na internet é fruto de uma alienação que inicia nas escolas, nas casas e no governo. Talvez, até mesmo por conta de nossa educação, voltada para a produtividade, perdemos a capacidade de ver o óbvio. E o óbvio é que por trás das tecnologias estão pessoas. Supor que as tecnologias são culpadas é supor que uma arma consiga cometer um crime por conta própria.
Pierre Levy fala sobre isso em seu livro Ciberculura :
“Mesmo supondo que existam três “entidades” (cultura, tecnologia e sociedade), poderíamos igualmente pensar que a tecnologia é fruto de uma cultura e de uma sociedade. Não existe nenhum ator ou “causa” independente. Encaramos as tendências intelectuais como atores porque existem grupos humanos bastante reais que se organizam ao redor desses conceitos. Ou mesmo porque alguns desses grupos tentam nos fazer acreditar que um problema é “puramente técnico” , “puramente cultural” ou “puramente econômico”. As verdadeiras relações não são entre tecnologia e cultura, e sim entre um grande número de atores humanos que inventam, produzem, utilizam e interpretam as tecnologias.”
É mais fácil culpar essas “entidades” do que olhar para nossas falhas. Não usamos o poder da internet para combater a corrupção e o descaso com a educação. Observamos a cultura da beleza, da futilidade, da indivudualidade e da “auto-estima” tomar conta de nossa juventude, que aos poucos começa a perder seu senso crítico e a seguir as “modas” e “tendências”, mascaradas de tribos e filosofias, que são disseminadas através das mídias de massa. Tudo isso tem uma singela lógica : vender produtos. E para vender produtos vale tudo, até mesmo alienar uma geração.
Deixamos nossos filhos em busca da “eficiência” e da “eficácia”, buscamos a felicidade pessoal, perseguimos a magreza, a beleza e a riqueza em detrimento do verdadeiro convívio social. Não cobramos nossos direitos e não cumprimos com nossos deveres. Quando a sociedade apresenta os resultados dessa visão de mundo, dizemos que o problema está na televisão, na internet, nos video-games ou seja lá o que for a “bola da vez”.