FILOSOFIA

Apologia de Sócrates: o julgamento da “mosca de Atenas”

Apologia de Sócrates : o julgamento da mosca de Atenas

A obra Apologia de Sócrates, do filósofo grego Platão, é um relato do julgamento de seu mestre Sócrates perante o tribunal de Atenas. Esse evento aconteceu por volta de 400 a.C, quando Sócrates tinha 70 anos de idade. As acusações feitas contra ele foram:

  • Não aceitar os deuses da cidade
  • Introduzir novos deuses
  • Corromper a juventude.

Essas acusações foram feitas por Anito, Meleto e Licon, representantes das classes dos políticos, poetas e oradores da cidade.

Sócrates, em seu discurso de defesa, refutou cada uma dessas acusações, utilizando seu estilo racional e argumentativo que marcou o pensamento ocidental, demonstrando as contradições de seus acusadores. Apesar disso, foi injustamente condenado à morte, pois existiam motivações políticas e pessoais de grande parte do júri, que queria se livrar da “mosca de Atenas”, apelido que Sócrates recebeu por incomodar os cidadãos de Atenas com sua argumentação criteriosa que sempre fazia seus interlocutores caírem em contradição.

Durante o julgamento, Sócrates manteve a tranquilidade afirmando que aceitaria a morte caso fosse esse o desejo da democracia ateniense, porém, caso vivesse, declarou que não deixaria de fazer o que sempre fez: buscar a verdade e destruir a ilusão daqueles que se achavam sábios. Para ele, calar a filosofia seria calar a voz da própria vida.

Apesar da condenação à morte, Sócrates, como cidadão ateniense, tinha a opção de escolher o exílio, saindo da cidade para nunca mais voltar. Todavia, sendo coerente com seu próprio discurso de defesa e com seus ensinamentos, o filósofo recusou essa opção. Sua escolha surpreendeu seus acusadores, que esperavam que ele saísse da cidade.

Após receber a sentença de morte, o filósofo disse que não seria vergonhoso para ele ser condenado, mas sim vergonhoso para o júri a decisão injusta. E assim, se despediu: “Já é hora de partir, eu para morrer e vocês, para viver. Quem vai para melhor sorte, isso é segredo, exceto para o deus”.

Sócrates foi condenado a beber um veneno chamado cicuta. A famosa pintura “A morte de Sócrates”, feita em 1787 pelo pintor francês Jacques-Louis David, retrata o momento em que o filósofo recebe a taça de cicuta enquanto seus amigos e discípulos choram ao seu lado.

Apologia de Sócrates é uma das mais importantes obras filosóficas da antiguidade. Durante o julgamento, fica evidente que Sócrates não está preocupado com a defesa de sua vida, mas sim com a defesa da verdade. O filósofo disse que já sabia que iria morrer, pois sua voz interior, que sempre lhe acompanhou e lhe alertou, silenciou naquele dia. Para ele, isso seria um sinal: sua missão chegara ao fim.

Depois da morte de seu mestre, Platão condenou a democracia, pois esse julgamento lhe mostrou que a democracia pode calar a verdade tanto quanto a tirania. Na obra A República, Platão apresenta sua proposta de governo ideal: uma aristocracia liderada por reis filósofos que saberiam diferenciar o justo do injusto.

AutorAlfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.