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O futuro chegou : conheça o Manifesto Futurista

O Futuro chegou

O Futurismo foi um movimento artístico que nasceu em 1909 com a publicação do Manifesto Futurista pelo poeta italiano Filippo Marinetti. O manifesto parece uma brincadeira, uma provocação feita a uma sociedade cada vez mais influenciada pela tecnologia, pela velocidade, pela agressividade e pela competitividade.

No entanto, Marinetti  não estava brincando. O texto é de fato uma apologia à guerra, à violência, ao movimento, ao automóvel que simboliza a velocidade da era industrial. Marinetti venera o tapa, o soco, a luta.

Para ele,  o século XX realizaria os mais altos ideais Futuristas. Esse louco poeta italiano considerava a Primeira Guerra uma sublime poesia futurista.

Manifesto futurista

Marinetti pretendia lutar de forma radical contra as tradições. A ele juntaram-se vários artistas e intelectuais que fundaram outros movimentos futuristas e modernistas, inclusive o escritor brasileiro Oswald de Andrade (que introduziu o modernismo do Brasil).

Criou uma nova linguagem que marcou movimentos artísticos e literários europeus. Influenciou também a Semana de Arte Moderna no Brasil, uma vez que desprezava os padrões estéticos tradicionais e propunha a originalidade. 

Infelizmente (ou felizmente, diria Marinetti), parece que a história aderiu ao Manifesto Futurista. Desde de 1909 tivemos duas guerras mundiais, holocausto,  Hiroshima, Nagasaki e conflitos sangrentos na Ásia, África e América Latina.

Manifesto futurista

As cidades se infestaram de carros, fábricas e prédios. Atualmente vivemos socando e matando no trânsito, estressados e agressivos.

Veneramos o carro, a velocidade e a violência. Nos tornamos escravos das máquinas, do engarrafamento, da pressa, e do fast food  (na verdade nos tornamos máquinas).

Manifesto futurista

Quem não consegue acompanhar a velocidade moderna e o consumismo desenfreado está condenado à exclusão. Contemplar e refletir tornou-se ato subversivo; é preciso sempre correr.

Chegamos em casa — após nossa rotina diária de loucura — e  ligamos a TV para assistir (com prazer sádico) mortes, corrupção, acidentes e guerra. Marinetti ficaria feliz em saber que nos tornamos seus fiéis discípulos, afinal, parece que amamos muito tudo isso.

 Leia abaixo o Manifesto Futurista publicado em 1909 no jornal Le Figaro:

  1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.
  2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.
  3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco.
  4. Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo… um automóvel rugidor, que corre sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.
  5. Nós queremos entoar hinos ao homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada também numa corrida sobre o circuito da sua órbita.
  6. É preciso que o poeta prodigalize com ardor, fausto e munificência, para aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.
  7. Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostrar-se diante do homem.
  8. Nós estamos no promontório extremo dos séculos!… Por que haveríamos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Nós já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a eterna velocidade onipresente.
  9. Nós queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo – o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.
  10. Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de toda natureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.
  11. Nós cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela sublevação; cantaremos as marés multicores e polifônicas das revoluções nas capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas elétricas; as estações esganadas, devoradoras de serpentes que fumam; as oficinas penduradas às nuvens pelos fios contorcidos de suas fumaças; as pontes, semelhantes a ginastas gigantes que cavalgam os rios, faiscantes ao sol com um luzir de facas; os piróscafos aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de largo peito, que pateiam sobre os trilhos, como enormes cavalos de aço enleados de carros; e o voo rasante dos aviões, cuja hélice freme ao vento, como uma bandeira, e parece aplaudir como uma multidão entusiasta.

Autor : Alfredo Carneiro
Editor do netmundi.org
twitter:@alfredo_mrc