FILOSOFIA

O que é Pós-verdade?

O que é Pós-verdade?

Pós-verdade é um fenômeno social em que narrativas, mesmo que infundadas, são mais importantes para a formação da opinião pública do que fatos concretos. Na pós-verdade as pessoas primeiro decidem acreditar em algo para depois buscar validar suas crenças com informações que atendam suas preferências, se distanciando cada vez mais da realidade dos fatos e das interpretações racionais.

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    O termo pós-verdade tem sentido irônico. Significa que, mesmo após a verdade dos fatos se revelar, ela é ignorada em prol de explicações fantasiosas, gurus ideológicos e teorias da conspiração. Seria uma contraditória “verdade inverídica” que surgiria “após a verdade”. Dessa forma, o termo indica que a verdade foi “deixada para trás”.

    O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) já havia percebido essa característica inconveniente das crenças humanas em acreditar firmemente sem comprovações:

    “Uma crença forte demonstra apenas sua força, mas não a verdade daquilo em que se acredita.”

    A pós-verdade está cada vez mais presente nas sociedades, principalmente com a popularização das redes sociais e a disseminação de informações falsas, as fake news. Tudo isso é potencializado pela ação dos algoritmos, que apresentam ao usuário, majoritariamente, conteúdos personalizados que ele está inclinado a acreditar, ampliando a sensação de veracidade das informações.

    Além disso, as disputas políticas e ideológicas contribuem para o aumento da pós-verdade, pois os grupos sociais tendem a disseminar apenas informações que confirmem aquilo em que acreditam.

    Para muitos autores, “pós-verdade” seria apenas um nome bonito para a mentira. Entretanto, isso é um reducionismo desse complexo fenômeno que envolve esquemas de poder, baixo nível educacional, falta de letramento digital e desconhecimento dos métodos científicos e filosóficos, criando um ambiente propício ao fanatismo, à desinformação e ao caos social. Soma-se a isso o amplo acesso a computadores e celulares.

    Esse fenômeno representa uma notícia ruim para os filósofos da cibercultura, como Pierre Levy, que depositam na internet a esperança do surgimento de uma inteligência coletiva capaz de produzir soluções para um mundo cada vez mais conectado. Infelizmente, a internet também tem se revelado um espaço de desinformação e manipulação em larga escala que afeta a ordem social e impede o diálogo. Um dos mais notórios exemplos de pós-verdade é o surgimento de grupos terraplanistas, porém, foi no campo da política que a pós-verdade encontrou seu ambiente mais virulento.

    Antídoto contra a pós-verdade

    O filósofo britânico Bertrand Russell (1872-1970), entrevistado pela BBC de Londres em 1959, a pedido do entrevistador, deixou uma mensagem para o futuro que se mostrou visionária para a época. Esta mensagem, deixada antes do surgimento da internet, pode ser um antídoto contra a pós-verdade:

    “Quando você estiver verificando algo, ou considerando alguma filosofia, pergunte a si mesmo, somente, quais são os fatos e quais as verdades que os fatos revelam. Nunca se deixe divergir pelo que você gostaria de acreditar; olhe somente quais são os fatos. Este foi o conselho intelectual. O conselho moral que gostaria de deixar é muito simples: o amor é sábio, o ódio é tolo. Neste mundo que está cada vez mais interconectado, temos de aprender a tolerar uns aos outros; temos de aceitar que algumas pessoas dizem coisas que não gostamos. Nós só podemos viver juntos dessa forma, se quisermos viver juntos, e não morrer juntos.”

    AutorAlfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.