FILOSOFIA

Georg W. F. Hegel – Biografia, filosofia, obras e frases

Georg Wilhelm Friedrich Hegel

Georg Wilhelm Friedrich Hegel descendia de uma linhagem de funcionários públicos. Na Alemanha, o funcionário público era um civil cujo senso de iniciativa e instinto de liberdade fora paralisado pelo vírus da burocracia. O pai de Hegel guardava os relatórios das finanças de Württemberg. O emblema de sua família era a rotina oficial. Nascido no dia 27 de agosto de 1770, Hegel foi mandado para a escola latina e depois para o seminário teológico em Tübingen.

Revelou-se, contudo, um medíocre estudante das “verdades divinas”. Lhe Interessava muito mais os problemas do mundo. E, na verdade, muitas coisas aconteciam no mundo durante os dias de estudante de Hegel. A França instaurara o “Reino da Razão”. O vinho da Revolução Francesa chegara aos lábios de todos os liberais na Europa inteira. Estes ergueram os chapéus em honra da liberdade, igualdade e fraternidade. Hegel plantou uma “árvore da liberdade” na praça pública de Tübingen saudando a República da França. Depois, passou a se dedicar apaixonadamente pela Filosofia.

Mas até um filósofo precisa comer. Decidiu-se pelo ensino como meio de vida. Por alguns anos, mal conseguiu sobreviver como preceptor esforçado. Tinha um amor pela literatura grega e pela filosofia de Kant, porém, lhe faltava dinheiro.

Contudo, o pai morreu lhe deixando uma pequena herança. Hegel considerava-se agora financeiramente independente. Escreveu a seu amigo Schelling pedindo que lhe indicasse um lugar onde pudesse estabelecer-se a fim de fruir sua herança. Um lugar onde houvesse bons livros e boa cerveja. Schelling respondeu: “venha para Iena”. Iena era uma cidade universitária, na Prússia, onde alguns dos principais jovens intelectuais da Alemanha tinham se reunido para ensinar filosofia.

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A Universidade de Iena e a invasão de Napoleão


Napoleão passando em revista a sua Guarda Imperial, por Horace Vernet. Jena, 1806.

Era o centro de um Renascimento cultural, um dos pontos brilhantes no qual, vindos de Paris, os raios do pensamento liberal brilhavam. Hegel foi para Iena, onde o nomearam professor da Universidade de Iena. O entusiasmo com a Revolução Francesa, contudo, começou a se dissipar. Muitos dos espectadores da Revolução lhe haviam virado as costas, enojados, quando o Reino da Razão se transformou em Reino do Terror.

Uma revolução que começara com o bom senso terminara com o genocídio. Um movimento para libertar a humanidade conduzira à ditadura de Napoleão Bonaparte. Os homens tinham sonhado um mundo melhor e mais livre. E com surpreendente rapidez viram reduzidos a cinzas os seus sonhos.

Enquanto Hegel continuava a sua calma vida de estudos na aldeiazinha universitária de Iena, Napoleão a invadiu numa batalha campal destruiu o exército prussiano, colocando depois as algemas da escravidão sobre o Estado da Prússia. Vencera, sucessivamente, austríacos, italianos e holandeses.

Napoleão reduziu os príncipes da Alemanha a um estado de vassalagem e enviou um exército para a Espanha. A liberdade no continente era apenas uma lembrança. O presente estava gravado em sangue, e o futuro, escrito nas nuvens.

Fuga para Baviera e aprofundamento de sua filosofia


Imagem do “Castelo do Rei Louco, na Baviera

Hegel fugiu para a Baviera, província alemã considerada “país amigo”. O jovem filósofo aceitou o cargo de professor na Academia de Nuremberg, se tornando posteriormente reitor. Lá prosseguiu em paz seus estudos por muitos anos, sonhando calmamente os seus sonhos filosóficos. Tempos depois o pesadelo de Napoleão se converteu em mito, e o ambicioso ditador foi isolado numa obscura ilhazinha no meio do mar. E os homens tornaram-se livres de novo.

Nota do editor: O texto original não fala do restante da vida acadêmica de Hegel, por isso, cabem aqui algumas informações. Hegel tornou-se reitor em Nuremberg em 1809, e posteriormente, em 1816, ocupou uma cátedra na  Universidade de Heidelberg. Em 1819 substituiu Fichte na Universidade de Berlim, onde ficou até a sua morte.

Hegel casou com uma senhora inteligente e requintada. Organizou sua vida e também sua filosofia. Com efeito, tão absorto vivia em seus pensamentos que sua distração se tornou lendária. Embora estivesse ainda no vigor da idade, andava curvado, com expressão concentrada e rosto pálido. A essência de sua personalidade residia em sua vida interior.

Jamais abandonou a atitude mental da família da qual descendia. Ao pensar sobre os elementos desconhecidos na equação da existência, não se tornou cético. Porque não era como o inglês John Locke nem como o escocês David Hume. O caráter alemão que nele havia construiu uma filosofia da fé, e a escrupulosa exatidão que herdara resultou na especulação metafísica mais complicada que o mundo já vira. Era um funcionário público sob a jurisdição de um Deus burocrático.

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A profunda racionalidade do mundo: “o real é racional”


Cérebro e mente

Todas as nossas ideias não materiais — declara Hegel — existem tão seguramente como uma mesa ou uma cadeira.

O mundo é inteligível, disse Hegel. A razão encontra-se no centro das coisas, sob a aparente incoerência da superfície. Os céticos, como Hume, haviam lançado a dúvida no espírito dos homens e criado uma atmosfera de cinismo que produzira aventureiros sem escrúpulos, como Napoleão. Quando o homem perde a fé nos valores da vida humana, a civilização retrocede. Porque a vida é um grande e sistemático esquema da verdade.

O homem pode compreender essa verdade através de suas faculdades de raciocínio, mesmo que não a possa apreender por meio de suas faculdades sensoriais. Em outras palavras, lança Hegel, diretamente, um desafio a Hume, afinal de contas, é possível ao homem conhecer as coisas além de sua experiencia através de sua razão. Há dois tipos de razão: A razão prática, que resolve problemas cotidianos, e a razão abstrata, que trata com ideias além de nossa experiência física.

E aí reside a dificuldade da questão — a principal divergência entre céticos e metafísicos. Afirmam os céticos que só existem as coisas que podemos apreender por intermédio dos sentidos. Os metafísicos, por sua parte, insistem em que há coisas, além dos sentidos, que tem uma existência igualmente real. Todas as nossas ideias não materiais — declara Hegel — existem tão seguramente como uma mesa ou uma cadeira.

A existência formal e a existência concreta


Matemática

A proposição de que dois e dois são quatro não existe no espaço; não existe no tempo. Entretanto, existe no abstrato com tanta realidade como existe no concreto.

Consideremos, por exemplo, a nossa ideia de quantidade. Podemos ver dois lápis mas não a quantidade abstrata dois. E, no entanto, a ideia abstrata de dois existe na razão, tão seguramente como os dois lápis concretos existem no espaço. Pois sem a existência de uma medida abstrata de quantidade nunca seríamos capazes de distinguir as quantidades concretas das coisas de que tratamos. Há, por conseguinte, a razão pura em oposição à razão prática — ou, para dizê-lo de outra maneira, existe uma existência formal em oposição a uma existência material.

A proposição de que dois e dois são quatro tem existência formal. Não existe no espaço; não existe no tempo. Não existe, sequer, em nossos espíritos, pois, aconteça o que acontecer aos nossos espíritos, permanece verdadeira a proposição. Entretanto, existe no abstrato com tanta realidade como existe no concreto, como a casa do meu vizinho do lado. Esta é a proposição fundamental de Hegel. E sobre essa proposição, ele cria sua estrutura filosófica.

Hume afirmou que nunca podemos descobrir uma primeira causa para o mundo, ou, mesmo, um causa para coisa alguma. E Hegel concorda. Todavia, insiste ele, se não podemos encontrar uma causa podemos, pelo menos, encontrar uma razão, para as coisas. E apesar disso parecer como jogo de palavras, não o é. Uma causa é uma força ativa que produz um efeito no tempo. Uma razão é uma necessidade lógica que nada tem a ver com o tempo.

A causa da existência do mundo, concordaria Hegel com Hume, é uma expressão sem sentido. Mas a razão da existência do mundo é uma expressão que tem sentido. A razão do mundo tem uma prioridade lógica independente do tempo, exatamente como um problema matemático tem uma prioridade lógica sobre sua solução. Existe o lógico, tão verdadeiramente quanto o físico. O real é o racional — tal é o grito de batalha de Hegel.

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A dialética de Hegel: tese, antítese e síntese ao longo da história


A razão, continua Hegel, explica-se por si mesma. O mundo é razão. Pois a razão é idêntica à existência. À pergunta, “o que é a razão para tudo?” Devemos responder: Tudo. Mas, desde que a existência inclui tudo, sustenta Hegel, compreende dentro em si tanto não-ser quanto o de Ser. Todas as coisas encerram em si mesmas o seu próprio contrário. É impossível conceber o que quer que seja sem conceber, ao mesmo tempo, o seu contrário. Não podemos pensar em finito sem pensar em infinito ou em tempo sem pensar na eternidade.

Uma vaca é uma vaca e, ao mesmo tempo, não é um gato. Uma coisa é ela mesma somente porque, ao mesmo tempo, não é outra coisa. Toda tese em favor de um argumento tem a sua antítese (seu contrário ou oposição). A vida tem a morte, e o amor, o ódio. O dia tem a noite, e a mocidade, a velhice. Mas Hegel dá um passo além dessa conclusão perfeitamente óbvia e apresenta-se com surpreendente pronunciamento. Não somente tem um contrário, mas tudo é o seu próprio contrário! A verdade é ambos os lados. Afinal de contas, a vida é uma luta de forças opostas tentando combinar-se umas com outras, numa unidade mais elevada.

Nota do editor: Aqui o texto começa a delinear a dialética hegeliana, ideia fundamental para compreender Hegel. Ela é composta de: tese, antítese e síntese. Neste momento, o autor explica o que é a tese e a antítese, para posteriormente falar da síntese. Diferente do diálogo entre duas pessoas (como a maiêutica de Sócrates) este diálogo (em Hegel) ocorre na história através dos grandes conflitos, que são na verdade “diálogos da humanidade”. 

E essa unidade, que buscam os filósofos e sonham os poetas, é conseguida apenas, com muito sangue. É uma unidade nascida da guerra, da agonia e do desespero. É a concórdia do amor que nasce da discórdia do ódio, o preceito da negação que se traduz no preceito da afirmação, o espírito que morre a fim de viver! Toda a natureza, portanto, é uma reconciliação de contrários, inclusive no homem.

Nota do editor: Aqui reside uma ideia radical (ou polêmica) de Hegel. Para ele, mesmo o caos da guerra e a desgraça das grandes tragédias históricas possuem uma racionalidade intrínseca. Nada é de fato “irracional”; tudo é racional e faz parte de um grande processo. Tudo está interligado em um grande diálogo histórico, uma totalidade que Hegel chamará de Espírito Absoluto. 

O homem luta contra a natureza, e, no final, morre subjugado por ela, mas somente para atingir a imortalidade. Pois, quando se entrega à morte está apenas entregando o seu eu ao seu outro eu. Porque a vida é a morte. E a natureza é o homem. Aqui, também, debaixo da diversidade superficial apreendida pelos nossos frágeis sentidos, há uma unidade profunda e movente. Nada que existe fora do homem é, realmente, diferente do homem.

O mundo em torno de nós é o nosso outro eu. Vemos uma árvore. A árvore nos é conhecida. Ela existe para nós apenas enquanto conhecida por nós. A sua existência é incluída na faculdade de conhecimento que existe em nós. A sua existência é parte de nós. A nossa existência é parte dela.

Se desejamos alcançar a verdade, não devemos encarar, apenas, o mundo do ponto de vista de nosso eu interior, mas devemos encarar o nosso eu interior do ponto de vista do mundo. É esta a suprema prova pela qual devemos passar se quisermos seguir as leis mais altas da razão.

Devemos considerar a nós mesmos com completa objetividade, assim como nosso próprio oposto, ou antítese. E somente então estaremos preparados para a união mais elevada da experiencia humana: a síntese. Libertados dos mesquinhos preconceitos das percepções de nossos sentidos, podemos respirar, agora, o ar fresco da liberdade. Nos livramos de nossa consciência imperfeita e frágil, conseguimos atingir uma consciência muito maior, a sublime e perfeita consciência do Eu.

Nota do Editor: A dialética histórica, então, é o resultado (síntese) do conflito ou oposição de duas ideias (a tese e a antítese). É importante enfatizar que este diálogo é “eterno” e cíclico, ou seja, ao se chegar a uma nova síntese (uma nova ideia) ela se torna nova tese e tudo recomeça. Como exemplo de dialética histórica no Brasil, tivemos a escravidão — que, em tese, era considerada boa para o país conforme a mentalidade da época. Posteriormente, grupos abolicionistas começaram a se opor a isso (antítese), o que resultou na conscientização do absurdo da escravidão e na abolição (síntese). A partir daí, novas teses surgiram, sempre aumentando a conscientização sobre o assunto.

Hegel e a visão filosófica da história


E esse Eu (a síntese final, por assim dizer) como então nos é dado compreender, é perfeitamente ciente de sua própria unidade e de sua própria força que abrange tudo. A Natureza eleva-se no homem para a consciência de si mesmo. A liberdade humana emerge como produto da mais grandiosa luta entre as duas forcas — a natureza e o homem, o corpo e o espirito, a energia e a alma, o selvagem e o santo. Agora, Hegel transfere essa unidade, que surge através da luta e do conflito, do indivíduo para a massa, da contemplação do homem para a filosofia da humanidade. O filósofo alemão culmina o trabalho de sua vida com uma nova visão sobre a historia.

O tema da história humana é o desenvolvimento da liberdade humana. A historia inicia com o surgimento da consciência no homem. Divide Hegel, em três fases, a sua perspectiva histórica. Cada fase representa um período do desenvolvimento na luta pela liberdade.

A primeira fase apresenta o drama do mundo oriental — China, Índia e o Oriente próximo — fases iniciais de nossa civilização. A segunda fase representa o mundo dos Estados Gregos. A terceira compreende a época do Império Romano. Há, um quarto estado, ainda por vir — e aqui, o espírito germânico de Hegel emerge à superfície — o mundo germânico no qual “a ideia da liberdade atingirá a sua mais alta expressão”.

O mundo oriental é o lar onde se passou a infância do homem. Na China, baseava-se a sociedade sobre a família e o Estado. O modo de religião que prevalecia era o culto dos ancestrais. O governo era paternal. O imperador, o grande pai amarelo que governava seus filhos com punho de ferro. Toda, punição era corporal. Todo habitante da China era menor perante a lei. O espirito da China era o espírito de uma criança alerta,

O espírito da Índia era o de uma criança sonhadora. A religião da Índia era sombria, panteísta, abstrata. O seu Deus, fantasma sonolento do Nirvana — o Nada. O hindu levava uma vida estática, vegetativa. Física, política e socialmente não progredia.

Os persas tinham uma religião de luz. A sua deidade suprema era a energia solar. O sol põe em movimento todos os processos do crescimento. É a força do bem lutando contra as fôrças do mal. E essa luta, observa Hegel, é a própria essência da vida. Enquanto o homem não despertar de seus sonos e não se capacitar da oposição entre o bem e o mal, nunca poderá ter consciência de sua missão de alcançar a liberdade espiritual.

No Egito — continua Hegel — torna-se o homem ainda mais ciente da luta dinâmica entre o bem e o mal. Os egípcios simbolizaram esse conhecimento no supremo enigma de sua arte nacional — a Esfinge. Luta o homem para emergir da fera. Mas não o alcança ainda. Com efeito, a Esfinge é, a um tempo, homem e fera, e ninguém é suficientemente sábio para adivinhar qual das duas naturezas predomina.

Seguem-se aos egípcios, os hebreus, que marcaram grande transição na ética do homem e na história religiosa. A transição de uma concepção naturalista para uma concepção espiritual da moralidade. Até então haviam os homens adorado animais e estrelas. Os judeus adoravam um Deus único e absoluto.

Veio, depois, a segunda fase do desenvolvimento humano — a civilização dos Estados gregos. “A Grécia é a manhã fresca da história humana”. A humanidade emergiu da infância para a mocidade. A arte, a religião, a filosofia e a política gregas traduzem a ardente inocência do espírito moço. Os deuses dos gregos são eternamente belos e imortalmente jovens. São humanos em sua sabedoria e em sua loucura. São guias perfeitos para a humanidade que luta.

Diz Schiller, o poeta alemão, “Quando os deuses eram mais humanos, os homens eram mais divinos”. E os gregos eram uma raça divina, com todo o esplendor e toda a fraqueza de suas próprias deidades olímpicas. Em Atenas, governavam-se os cidadãos, membros de unia comunidade democrática. Mas a humanidade não estava, ainda, totalmente livre no mundo ateniense, pois, a maioria dos homens eram escravos. Até então, não surgira a ideia de liberdade como propriedade comum a todos os homens.

E depois o mundo progrediu para a terceira fase da história. O mundo grego cedeu seu lugar ao mundo romano. A primeira comunidade de Roma foi uma comunidade de salteadores. E “um Estado alicerçado na força tem de ser sustentado pela força”. A evolução da história romana é a transformação do salteador romano no soldado romano. Contudo, com o crescimento do Império, surgem, para o bem da humanidade, certas forças essenciais. Estabeleceu-se um código universal de leis, o primeiro de sua espécie na história.

O indivíduo chegara, pela primeira vez, a uma consciência de seus direitos aos olhos da lei – ao menos formalmente. Na realidade, o caso era diferente. Porque, a maioria das pessoas, estavam ainda escravizadas e, para elas, a lei era letra morta.

Aparece, então, uma nova fôrça — o Cristianismo. Esta religião apoderou-se das massas inferiores e deu-lhes um pai em Deus, um irmão em Cristo e um conhecimento do amor. E assim, após a igualdade legal dos romanos, o cristianismo introduziu, uma igualdade intrínseca — o valor inerente e infinito de todos os homens.

Nota do editor: Esta dialética histórica, conforme Hegel tenta demonstrar, irá culminar no Estado como ideia absoluta de liberdade. Servir ao Estado é, na verdade, ser livre. O individual desaparece e cede lugar a um “eu coletivo” formado por um corpo de leis e uma autoridade máxima que organiza sabiamente a vida social.

Graças à adoção do Cristianismo, a justiça triunfou sobre a injustiça, na luta histórica do homem pela liberdade. Os homens começaram a enxergar, a princípio vagamente, mas cada vez de modo mais claro à medida que passava o tempo, a íntima relação existente entre a justiça e a misericórdia, entre a lei e o amor.

O código legal dos romanos, que foi idealizado para defender o forte contra o fraco, foi, passo a passo, transformado em novo código, destinado a proteger o fraco contra o forte.

A monarquia absoluta cedeu o passo à monarquia constitucional, os direitos legais do povo foram ampliados em direitos políticos. Liberdade e democracia tornaram-se termos quase sinônimos. Finalmente, ao trazer Hegel a história para a sua própria época, vê diante de si uma nova síntese de liberdade emergindo do tumulto e da confusão da rivalidade diplomática e militar. Essa nova liberdade, declara, surgirá na Prússia. Pois a Prússia “está criando, rapidamente, um poderio formidável.

Nota do editor: Infelizmente, depois de ter pensado de forma tão original e ampla, Hegel se conecta ao seu tempo e à política local, concluindo que sua época seria a consolidação desse grande diálogo histórico.  E irá concluir também que o Estado é a síntese definitiva, sendo, portanto, mais importante que o próprio indivíduo (que “não sabe o que quer”). A consequência será o apoio de Hegel aos Estados Absolutistas. Na história da Filosofia, Marx irá utilizar esta ideia de Hegel para justificar  o conflito violento revolucionário e a supremacia do Estado sobre o indivíduo, que perde sua liberdade, pois “liberdade” é, na verdade, ser obediente ao Estado. Hegel e seu discípulo Marx serão as bases filosóficas de muitos governos totalitários.

Hegel e seu apoio aos Estados absolutistas


Estados Absolutistas

Hegel irá concluir que o Estado é a síntese definitiva, sendo, portanto, mais importante que o próprio indivíduo que “não sabe o que quer”. A consequência será o apoio de Hegel aos Estados Absolutistas

O Estado Prussiano, reacionário e absolutista, sobrepujara todos os direitos do indivíduo. Hegel, contudo, acreditava ver nesse Estado o tipo mais elevado da vida de “comunidade”. O eu individual, declarava, precisa sacrificar tudo pelo seu eu “melhor”, o Estado. À medida que Hegel envelhecia tornava-se ultra-conservador. Os seus primeiros dias como liberal já haviam ficado muito para atrás. Emprestou o seu apoio moral a todas as medidas opressivas do rei prussiano.

Escreveu um artigo criticando a constituição inglesa, que apelidou de “floresta perversa e sem fé”. Ele substituiria o governo popular da Inglaterra pelas “instituições racionais” da Prússia. Um governo, disse ele, não é obrigado a expressar a vontade do povo. “O povo que nunca sabe o que quer”.

Nota do Editor: O filósofo alemão Arthur Schopenhauer tinha verdadeiro horror a Hegel. Para ele, Hegel não compreendeu e distorceu toda a filosofia de Immanuel Kant. Com seu estilo agressivo, Schopenhauer acusou Hegel de ser vaidoso, mentiroso e um enganador que buscava “glória e emprego”, e por isso mesmo não seria um livre pensador, mas um pensador a serviço do dinheiro e do Estado, que, “por não saber o que dizer, escrevia difícil”. Tudo isso porque Hegel baseou sua filosofia em Kant, filósofo que Schopenhauer, além de admirar, se considerava um especialista e seu principal sucessor, despertando seus “ciúmes”. E principalmente por causa o idealismo alemão, que Schopenhauer considerava outra distorção pós-kantiana, e que foi pouco abordado nesse texto.

A influência de Hegel na história


Marx e Hegel

No ápice de seu pensamento político, Hegel faleceu devido à uma epidemia de cólera, antes de conhecer como seria tratada a sua filosofia pelos seus discípulos. O destino dela foi notável. Por uma parte, os homens de Estado, olhos fitos no passado, do austríaco Metternich aos czares russos, adotaram a filosofia de Hegel como justificativa para a sua tirania. Pois, de acordo com a dialética de Hegel, todo Estado deve aceitar o direito divino da opressão que lhe pertence, como fase necessária na evolução do governo.

Por outra parte, todavia, viram os discípulos liberais, de Hegel, em sua filosofia, uma justificação para todas as revoluções. Não proclama Hegel o direito de conflito de toda força, a tese, com a sua força contrária, a antítese? Não sustenta ela a doutrina da mudança violenta por meio do conflito violento? Dessa doutrina hegeliana derivou a teoria da luta de classe de Karl Marx, pai do socialismo moderno.

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  1. Karl Marx e Adam Smith: oposições entre marxismo e liberalismo clássico

Autor: Henry Thomas Schnittkind
Texto original extraído do livro “Vida de Grandes Filósofos”, 1944, de Henry Thomas e Dana Thomas. Editora Livraria do Globo.
Adaptações, notas, links e frases – Alfredo Carneiro, editor do netmundi.org

Principais obras de Georg Wilhelm Friedrich Hegel


  1. Fenomenologia do Espírito (1807)
  2. Ciência da Lógica  (1816)
  3. Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1830)
  4. Elementos da Filosofia do Direito (1830)

Frases de Hegel


  1. “O real é racional, e o racional é real.”
  2. “Povo é a parte do Estado que não sabe o que quer.”
  3. “Nada de grande se realizou no mundo sem paixão.”
  4. “A necessidade, a natureza e a história não são mais do que instrumentos da revelação do Espírito.”
  5. “O Estado é a forma histórica específica na qual a liberdade adquire uma existência objetiva.”
  6. “O mais alto objetivo da Arte é o que é comum à Religião e à Filosofia. Tal como estas, é um modo de expressão do divino, das necessidades e exigências mais elevadas do espírito.”

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