FILOSOFIA

Arthur Schopenhauer: a irracionalidade da razão

Arthur Schopenhauer - A irracionalidade da razão

Para Arthur Schopenhauer (1788-1860), uma força poderosa domina o homem. Essa força é a vontade irracional de viver e persistir, sendo a razão apenas marionete dessa vontade.

A razão, tão venerada pelos filósofos, para Schopenhauer é apenas um “livro caixa” que registra entradas e saídas de informações. Ela tem utilidade, mas é superestimada. A razão cura doenças, constrói cidades e máquinas, mas é a vontade que lança as bombas e declara as guerras. A vontade irracional se disfarça em todo discurso supostamente racional.

A vontade não é apenas energia que impulsiona o poder, o ódio e o egoísmo, mas também os atos de amor e entrega. Em tudo a vontade é força motriz. Por isso, Schopenhauer denunciou a fragilidade da razão: ela nunca esteve no controle. A razão é venerada pelos que pouco amaram ou pouco odiaram, pelos que nunca desejaram ardentemente. A vontade irracional é o que verdadeiramente nos agarra à vida.

A revelação do Arsenal de Toulon


Quando jovem, Arthur Schopenhauer visitou o Arsenal de Toulon, na França, onde milhares de prisioneiros viviam acorrentados uns aos outros em condição deplorável. Eram criminosos condenados que nunca sairiam dali. Os prisioneiros eram mantidos nas galés de navios desativados, sendo também atração turística para quem visitava o lugar.

Essa visão de horror e sofrimento marcou a filosofia de Schopenhauer. Como alguém pode se agarrar à vida naquelas condições? Toulon revelou ao filósofo a misteriosa força irracional que nos liga à vida.

Para Schopenhauer, esses prisioneiros não são diferentes de nós, que estamos acorrentados à frágil condição humana. Nossos discursos racionais e mesmo religiosos apenas disfarçam nossa real condição de escravidão e, assim como aqueles prisioneiros, nos agarramos a uma vida sem sentido graças a uma vontade irracional.

Austeridade e isolamento


Arthur Schopenhauer condenava ferozmente os filósofos que buscavam poder e influência. Acusava Hegel de ser um impostor que deturpou a filosofia de Kant. Quem buscava prestígio através da filosofia não podia filosofar claramente. Por isso, Schopenhauer passou despercebido pelo fervilhante mundo filosófico de sua época.

No entanto, esse isolamento permitiu que sua filosofia fosse rica em experiências interiores. Schopenhauer foi um observador atento de seus próprios pensamentos. Sua obra é um convite à introspecção. Essa observação das forças interiores permitiu que sua reflexão brilhasse para além do otimismo ingênuo de seu tempo.

Seu olhar contemplativo percebeu a poderosa energia da vontade oculta da natureza. Schopenhauer nos convida a observar o mundo e pensar por conta própria.

“Há quase só idiotas no mundo”


Schopenhauer seguia uma rotina disciplinada, era poliglota e lia as obras filosóficas em sua língua original. Era dono de um temperamento forte e tinha consciência de sua genialidade. Constrangia senhoras e jovens que insistiam em conversar com ele. Era o esteriótipo do velho antipático e apenas na velhice sua obra foi descoberta pelo mundo filosófico, tornando-o famoso em toda a Europa ainda em vida.

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche retomou o conceito de vontade de Schopenhauer e criou seu próprio conceito de vontade de potência. Ficou tão impressionado que escreveu um livro intitulado “Schopenhauer como Educador”.

O escritor russo Leon Tolstói (1828-1910) foi enfático ao falar de Schopenhauer: “Estou convencido de que Schopenhauer é o homem mais genial de todos. (…) Ao lê-lo não posso compreender como o seu nome pôde permanecer desconhecido. A única explicação possível é a que ele mesmo repete tantas vezes: há quase só idiotas no mundo.” 

Autor: Alfredo Carneiro

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