FILOSOFIA

Saiba a diferença entre Ciência e Filosofia

Saiba a diferença entre Ciência e Filosofia

Apesar da ciência ter herdado a argumentação racional que surgiu com os primeiros filósofos, a diferença entre ciência e filosofia reside no fato da ciência estar comprometida com demonstrações empíricas, enquanto que a filosofia se permite trabalhar com conceitos que estão além de qualquer demonstração física.

Tanto a ciência quanto a filosofia estão obrigadas a demonstrar seus conceitos de forma clara, lógica e sem contradições, contudo, se a filosofia estivesse comprometida com dados empíricos, não poderia investigar conceitos metafísicos como Deus, a alma humana ou mesmo desconfiar da realidade — de onde a ciência tira suas conclusões — como fizeram Platão e Descartes.

Isso não impede que a ciência também avance no terreno puramente conceitual. É o caso, por exemplo, da Teoria da Relatividade criada por Albert Einstein baseada em conceitos e raciocínios indutivos, como também fazem os filósofos. Porém, as teorias científicas sempre estarão submetidas à comprovação.

Foi assim em 1919 quando uma equipe de cientistas conseguiu comprovar o desvio da luz em um eclipse solar, como Einstein previra, confirmando assim sua famosa teoria. Outro caso recente é o Bóson de Higgs, uma partícula elementar da matéria (também chamada “Partícula de Deus”) que foi percebida de forma conceitual pelo físico britânico Petter Higgs em 1964 e confirmada através de experimentos realizados com o Grande Colisor de Hádrons em 2013.

Nos dois casos, os cientistas esperam que suas teorias sejam comprovadas, caso contrário podem cair em descrédito.

Ciência versus Filosofia


Ciência x filosofia

As revoluções científicas seguem um caminho de queda e ascensão de paradigmas. Portanto, quando um paradigma científico é refutado, ele não é mais considerado conhecimento válido. Como exemplo podemos citar o surgimento da teoria heliocêntrica, que derrubou a crença de que o Sol girava ao redor da Terra (hoje considerada uma crença absurda).

Isto não acontece com a filosofia e até mesmo os filósofos mais antigos, como os pré-socráticos, são fonte de inspiração até hoje, influenciando tanto cientistas quanto pensadores contemporâneos como Friedrich Nietzsche. O conceito de átomo, utilizado pela ciência moderna, foi inspirado nos antigos filósofos atomistas. O Renascimento (ocorrido entre os séculos XIV e XVI ) também é um exemplo de retomada de tradições filosóficas antigas.

Isso ocorre porque a filosofia, através de sua abordagem puramente conceitual, busca atingir os assuntos mais perenes da humanidade, como as questões éticas que a ciência parece desconsiderar.

Entretanto, as investigações filosóficas ainda, que não tenham como objetivo a demonstração empírica, acabam influenciando o processo de investigação científica. O filósofo Renné Descartes (1596-1650) é o exemplo mais simbólico desta influência, uma vez que foi sua forma característica de filosofar que acabou influenciando o método científico moderno.

Cientistas versus Filósofos


linha do tempo filosofia

Os filósofos também questionam as afirmações dos cientistas, combatendo crenças científicas mal elaboradas. Este é o caso do argumento da sala chinesa, elaborado pelo filósofo americano John Searle para combater o alarmismo dos cientistas sobre a inteligência artificial.

Podemos citar também a argumentação de Thomas Nagel que tenta refutar a ideia de que a neurociência poderia esclarecer o problema da consciência humana. Isso demonstra como a investigação filosófica se aplica não apenas aos conceitos metafísicos, mas também a todo e qualquer conceito, seja ele científico ou crença popular. É por isso que se costuma dizer que a filosofia é uma experiência conceitual.

É natural que durante as pesquisas científicas surjam questões filosóficas. Nesse ponto, o antipático filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) foi bastante pessimista quanto à capacidade dos cientistas em avaliar essas questões.

Esta falta de habilidade percebida por Schopenhauer pode ser fruto da abordagem empírica da ciência, que acaba viciando a investigação filosófica feita pelos cientistas. Normalmente os cientistas mais populares abordam questões filosóficas se limitando a utilizar descobertas científicas para confirmar suas crenças pessoais.

Schopenhauer era um leitor ávido das descobertas científicas de sua época. Mas acreditava que, quando os cientistas se confrontavam com questões filosóficas em suas pesquisas, “revelavam uma sabedoria de sapateiro para as coisas da filosofia”.

Também não é incomum que cientistas virem gurus espirituais, acreditando que as recentes teorias científicas revelam de forma irrefutável uma sabedoria divina. Outros pensam o contrário e se tornam líderes de movimentos ateístas. A maioria, contudo, segue seu caminho promovendo as revoluções científicas não se importando com questionamentos filosóficos.

A importância da ciência e da filosofia


Curiosidade

“A ciência é coisa importante e útil, os que a desprezam demonstram estupidez. Ela não pode, no entanto, nos tornar sensatos”. Esta frase do filósofo francês Michel de Montaigne (1533-1592) ilustra a importância da ciência ao mesmo tempo que restringe sua área de atuação.

A ciência promove o avanço da técnica e do conhecimento, mas não podemos esperar que ela nos torne melhores. Esta é uma das teses do filósofo político Jean-Jacques Rousseau (1712-1778): “quanto mais avançamos nos conhecimentos técnicos e científicos, mais imoral vai se tornando a humanidade.”

É inegável que a ciência promove avanços impressionantes, mas a forma como lidamos com esse avanço ainda é inadequado. A filosofia se insere neste espaço de investigação — de forma mais livre porém não menos criteriosa — buscando conciliar as descobertas científicas com as questões mais profundas da humanidade.

AutorAlfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.

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