FILOSOFIA

Platão: a ética do Belo e do Bom

Platãoo - a ética do belo e do bom

A dialética em Platão é um diálogo que eleva a alma, gradualmente, para além deste mundo físico. Constitui ponto central de sua filosofia. Então, sua ética não pode ser entendida sem a sua dialética. A dialética revela a essência das coisas e a ética é a ação inspirada por essa revelação.

Por exemplo: observemos uma flor qualquer. A dialética revela a ideia de flor, que é a essência de todas as flores que reside no mundo das ideias perfeitas. Então, só existem flores pois existe a ideia universal de flor.

A dialética nos dá acesso a essa transparência que permite descobrir as essências (ou ideias) que estão além da transitoriedade deste mundo. Assim como existe uma flor ideal, eterna e universal, existe também o Bem Ideal ou ideia universal do Bem.

Aplicada ao problema moral, a dialética platônica será o método que permite fundar a vida prática nessa ideia universal do Bem — que também é chamado de Sumo Bem, o destino final de todas as coisas, que mais tarde a Filosofia Medieval irá associar a Deus.

O Belo e o Bom refletem a vida em perfeito equilíbrio


Ao refletir sobre o tipo de existência que possa representar uma vida ética, isto é, a vida daquele que busca o equilíbrio, a ética platônica busca uma articulação entre o Belo e o Bom.

Na filosofia de Platão, a ética implica compreensão do Bem universal de tal modo que o sujeito, inspirado pela força deste Bem, consegue suplantar o excesso. Assim se articulam, na ética de Platão, o Belo e o Bom, pois uma forma é bela se ela constitui em si mesma um todo perfeitamente harmonioso. O Belo é, então, a forma manifesta do Bem.

A beleza carrega a ideia de harmonia. O sujeito ético é capaz de tomar consciência do Bem e harmonizar-se internamente. Tornar-se um sujeito moral significa buscar manifestar a beleza.

Platão: medida, beleza e verdade


Em Platão, longe de ser um padrão estético, a beleza é a forma na qual o Bem Universal se manifesta através da ação do sujeito ético em toda a sua transparência. Aqui podemos lembrar daqueles que tomaram atitudes que todos consideraram como nobres e belas.

Portanto, a Ideia de Bem apresenta três propriedades : a proporção ou medida, a beleza e a verdade. A unidade do Bem definirá, nesta tríplice união, o horizonte da moral em Platão:

  • A medida – não se refere a uma ordem externa ao sujeito à qual ele deva se conformar, mas designa uma certa atitude do sujeito, um modo de comportamento particular que carrega um nome: a moderação.
  • A beleza – longe de ser um padrão estético , a beleza aparece aqui como forma na qual o Bem Universal poderá se manifestar, pelos seus atos, em toda a sua transparência. Aqui podemos lembrar daqueles sujeitos que tomaram atitudes que todos consideraram como nobres e belas, encarnando em si mesmos o Bem Universal percebido imediatamente e intuitivamente por todas as pessoas — eis aqui a articulação entre o Belo e o Bom. Por outro lado, aquilo que é “feio”, desaconselhável e insensato são as atitudes tomadas por aqueles que são ignorantes desse Bem Universal; são dados aos excessos, à vaidade e ao descontrole, prejudicando a si mesmos e aos outros. Ou, como declarou Sócrates (o maior herói dos diálogos platônicos): “O homem faz o mal porque é ignorante do Bem”.
  • A verdade – caracteriza o modo como o sujeito se engaja no projeto de se tornar sujeito moral, de constituir para si uma existência digna do nome “boa”. Em outros termos, a verdade designa o caráter de autenticidade daquele que busca para si uma existência moral através de uma dialética que ocorre em sua própria experiência de vida. É, pois, aquele que pelas suas atitudes e pelo seu discurso busca a verdade daquilo que é Belo e Bom, a conexão primordial com o Bem Universal.

A articulação destes três princípios irá presidir a harmonização das diversas partes da vida humana, ou seja, uma “medida determinada” que guia o homem em suas ações.

A filosofia moral de Platão está em total conformidade com sua Teoria das Ideias, a qual pressupõe um abandono progressivo dos sentidos na apreensão da essência das coisas, tal como ocorre na sua Alegoria da Caverna.

AutorAlfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.

Observação: Na Filosofia Antiga não há diferença clara entre moral e ética. Essa distinção irá ocorrer posteriormente, principalmente na Filosofia contemporânea. Para compreender a diferença entre as duas (conforme é feita atualmente) leia nosso post Qual a diferença entre ética e moral?

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