O valor da literatura na era digital

Recentemente escreví um post sobre a nova literatura da era digital. No entanto o texto é focado em narrar a dinâmica da criação coletiva de textos na internet,  a crescente confusão sobre os direitos autorais e a natural resistência das pessoas ao que é novo. No entanto, qual o valor dessa nova literatura ?

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Refiro-me a quase todos os significados possíveis da palavra valor (valor financeiro, valor estimado, valor para a cultura, etc..). Nesse caso, não se trata mais de uma resistência ao novo. O problema enfrentado pela era digital é que as pessoas estão perplexas. Textos clássicos agora circulam na internet e podem ser lidos, apagados ou transferidos. A nova literatura que surge  tende a ser coletiva e não sabemos ao certo quem é o autor, obras de domínio público podem ser baixadas gratuitamente, livros protegidos por direito autoral são digitalizados e copiados indiscriminadamente pela internet e editoras  começam a ver seu faturamento diminuir.

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Essa perplexidade é natural, afinal, fomos criados comprando livros, recebendo livros de nossos pais, dando valor sentimental ao objeto que é o livro.  No livro está a dedicatória do amigo, da namorada, da mãe e  do pai. Alguns livros custaram muito caro, outros demoraram a chegar pelos correios trazendo a sua novidade, a sua informação e a sua história.

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A escrita dividiu a história, estava gravada nas cavernas, pertencia a elite medieval, difundiu as artes, as filosofias e as engenharias. O que somos hoje como civilização foi construído através da escrita. E a escrita sempre utilizou um suporte físico, seja pedra, parede de caverna, papiro e finalmente o livro.  Mas nunca foi “virtualizada”. De repente um costume de seis mil anos perde sua corporeidade, seu cheiro e seu tato. Olhamos perplexos para o “livro” digitalizado e sem forma, mas não sem essência.

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No entanto, existem claras vantagens na digitalização. Praticamente uma biblioteca inteira cabe em um pen-drive e novas tecnologias tem surgido tentando dar ao leitor a comodidade do livro, como os e-readers e os tablets.  Se podemos baixar de graça o livro  O Estrangeiro de Albert Camus e ler em nosso e-reader, provavelmente não iremos em uma livraria para comprá-lo.

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Muitas são as questões que surgem quando imaginamos a virtualização do livro. Talvez somente a imaginação poderá nos dar respostas possíveis. Imaginemos então o futuro.  Dispositivos de leitura terão baixíssimo custo e best-sellers poderão ser baixados da internet. O download de livros e revistas custará aproxiamdamente R$ 1,00.  Dispositivos de segurança protegeriam a obra literária de cópias não autorizadas. Como o custo das obras será baixo, a pirataria ficaria enfraquecida, mas ainda existiria. Escritores publicariam seus livros sem intermédio de editoras e editoras se dedicarão a produzir versões estilizadas dos best-sellers, manuais, quadrinhos e literatura infantil com recursos de sons, vídeos e interatividade, ampliando a capacidade de assimilação e compreensão de uma forma que não seria possível apenas com o texto impresso.

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O livro impresso, acredito,  não deixará  de existir. Apenas perderia sua hegemonia para a virtualização  mas ainda teria seu público, que seriam pessoas que, mesmo tendo dispositivos eletrônicos, tem mais afinidade com o livro impresso. Dessa forma o livro impresso deverá conviver lado a lado com a virtualização.