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Felicidade: definições e indefinições filosóficas

Felicidade - Definições e Indefinições filosóficas

A felicidade sempre recebeu atenção especial dos filósofos. Da antiguidade até nossos dias, ela é tema filosófico fecundo e constante. Além disso, independente do que os filósofos disseram, todos nós possuímos uma ideia acerca da felicidade.

Entretanto, se acreditamos que a felicidade está ligada a dinheiro, moda, sucesso, viagens e estética — conforme as propagandas tentam nos convencer —, isso pode gerar uma cobrança pessoal que traz infelicidade.

Se a busca pela felicidade traz infelicidade, então algo está errado. É importante ter uma ideia sensata sobre ser feliz, caso contrário, corremos o risco de desperdiçar nossas vidas.

A felicidade em Epicuro e Aristóteles


Aristóteles e Epicuro

Aristóteles (384-322 a.C) declarou que “a riqueza é coisa útil, nada mais, e deve ser buscada no interesse de outra coisa”, então, a riqueza pode ter um papel na busca da felicidade, mas não a determina.

Aristóteles afirmava também que a felicidade é “a melhor, mais nobre e agradável coisa do mundo”, e o filósofo grego a resumiu em uma fórmula simples: “Tanto o povo quanto os homens de cultura superior dizem que o bem supremo é a felicidade, e consideram que o bem viver e o bem agir equivalem a ser feliz”.

Ser feliz, para Aristóteles, é uma questão de agir de forma correta em busca de uma vida boa. Esta “vida boa”, para o filósofo, não está necessariamente ligada à riqueza, como ele mesmo deixa claro: “A vida dedicada a ganhar dinheiro é uma vida forçada, e a riqueza não é, obviamente, o bem que procuramos”.

Epicuro (341 – 270 a.C) acreditava que a busca por prazeres desenfreados trazia apenas sofrimento. A vida deveria ser direcionada pela sensatez e pela simplicidade. Somente assim o homem poderia saber o que é ter prazer e ser feliz.

Um vida cheia de desejos e prazeres é uma vida infeliz, viciada e desgastante. Quanto menos desejamos, mais temos. Quanto mais raros são nossos prazeres, mais prazer e felicidade sentiremos ao desfrutá-los.

Epicuro, assim como Aristóteles, acreditava que felicidade é a coisa mais importante do mundo, e sobre ela dizia: “É necessário praticar desde cedo aquilo que confere felicidade, pois com ela possuímos tudo, e a quem ela faltar, tudo fará para adquiri-la”. Ser feliz, para o filósofo, é questão de prática e frugalidade.

A felicidade nos dias de hoje


Felicidade

Dos filósofos antigos até nosso tempo, as coisas mudaram radicalmente. Se antes importava saber aquilo que os grandes pensadores achavam sobre a felicidade, atualmente esse assunto parece estar entregue nas mãos da mídia e do consumismo.

Nunca tivemos tanta informação, por outro lado, não existe muito tempo para leitura e reflexão, só para filmes, séries, novelas e propaganda. Aquilo que chamamos de Indústria Cultural nos adestra desde cedo para desejar muitas coisas, ligando nossa capacidade de consumir à felicidade.

O filósofo Zygmunt Bauman declarou: “Somos aquilo que podemos comprar”, sendo essa uma característica de nosso tempo. Portanto, ser feliz, nos dias de hoje, é questão de ser capaz de consumir. O conceito de Modernidade Líquida, de Bauman, ilustra essa complexa situação: nada mais é feito para durar, inclusive a felicidade.

A felicidade segundo Rupawe


Felicidade simples

Para compreender o que disseram os filósofos antigos, seria necessário limpar nossa mente, esquecer até mesmo a própria felicidade, pois há algo de errado com essa que nos foi vendida, como alertou Bauman.

Com algum esforço, poderemos esquecer todo esse estresse, toda essa pressão por coisa nenhuma. Como disse o poeta Carlos Drummond de Andrade: “Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”. Façamos então, na medida do possível, como nesta pequena e verídica história:

Conta-se a seguinte experiência, vivida por um médico paulista, muitos anos atrás. Durante o período em que trabalhou entre os índios xavantes, no Mato Grosso, ele fez amizade com um dos nativos, Rupawe, que o acompanhava frequentemente e lhe contava diversas histórias de sua tribo.

Numa tórrida tarde dessa região central do Brasil, os dois decidiram refrescar-se no rio das Garças. Nadaram durante quase uma hora e depois se sentaram à beira das águas para descansar e apreciar a bela paisagem. A agradável sensação da brisa pareceu despertar no médico pensamentos mais sutis, resultando neste curto diálogo:

— Você é feliz, Rupawe?
— Sim — respondeu prontamente o nativo.
— E você sabe o que é felicidade?
— Não.

AutorAlfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.

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