FILOSOFIA

Cérebro – investigações filosóficas e científicas

Cérebro - ciência e filosofia

O cérebro também é chamado de “a morada dos pensamentos”, “computador perfeito” e “fábrica dos conhecimentos”. Com todas as suas funções, tem sido estudado por diversos ramos do saber. Sempre foi um desafio conhecer as complexas relações entre a cognição (aquisição do conhecimento, percepção), o comportamento humano e as atividades do sistema nervoso. Daí termos as áreas de estudo:

  1. Teoria do Conhecimento – desde os primeiros filósofos, na Grécia antiga, procurando o entendimento de como se processa o conhecimento.
  2. Filosofia da mente – ramo recente da filosofia, que compreende uma interrelação entre saberes das várias ciências onde interagem o cérebro e a mente.
  3. Neurociência – tem por objetivo estudar o funcionamento do Sistema Nervoso Central, a partir de uma perspectiva biológica.
  4. Neuropsicologia – tem como objetivo estudar cientificamente o comportamento do indivíduo e como este se relaciona com as estruturas cerebrais. Uma das metas é reconhecer a causa de distúrbios da cognição e de determinados comportamentos humanos.
  5. Teorias cognitivas – por meio das ciências cognitivas há uma procura em estudar as funções cerebrais, com objetivo de desenvolver o conceito de “inteligência artificial”.

Percebemos que a humanidade cada vez mais se dirige para essa parte do organismo sobre a qual pouco sabemos ainda. Estudiosos não conseguem, por exemplo, explicar exatamente onde está a diferença entre irmãos em que um é gênio no esporte e outro não tem noção de movimento.

Deixando de lado fatores ambientais e culturais, as seguintes questões filosóficas continuam abertas:

  1. Como se forma a mente humana?
  2. Confunde-se com a alma ou se trata do resultado de eventos elétricos e químicos no cérebro?
  3. Poderá um dia a mente humana ser compreendida por ela própria?

Cérebro e mente: primeiras investigações


Cérebro e mente

Essas questões e outras são antigas. São levantadas desde o começo da civilização ocidental na Grécia, numa época em que o homem passava a ser o centro das atenções nas investigações filosóficas. Não por acaso:

  • O filósofo Alcmeão, habitante de Crotona, uma cidade grega do sul da atual Itália, no século V a.C., iniciou o estudo das relações entre cérebro e comportamento. Ele dissecou cadáveres e buscou no cérebro o segredo para as atitudes humanas;
  • Na mesma época Hipócrates, um dos fundadores da medicina, percebeu a função do cérebro na manutenção da consciência e como controlador dos movimentos.
  • O filósofo pré-socrático Empédocles afirmava: “para os homens, o sangue que lhes flui em volta do coração é o pensamento”.
  • Platão defendia que a mente estava na cabeça, e seria uma esfera em forma geométrica perfeita;
  • Aristóteles acreditava que a mente vivesse no coração, centro de vitalidade e calor do corpo.
  • Na Idade Média se imaginava que o cérebro fosse o abrigo da mente.
  • No século 17, Descartes afirmava que a mente devia, de fato, residir no cérebro, mas como algo separado, imaterial.
  • No século 18, o anatomista Franz Joseph Gall concluiu que as funções mentais seriam localizadas em regiões especificas do córtex cerebral. A comprovação de que áreas específicas do cérebro estavam relacionadas à cognição só ocorreu no século passado.
  • Em 1861, Pierre Paul Broca descobriu que uma grave lesão na base do terceiro giro frontal esquerdo provocava sérios distúrbios da expressão verbal. O cientista chegou à conclusão, tempos depois, de que essa área era o centro da imagem motora das palavras.

Atualmente, avanços tecnológicos dão soluções a alguns mistérios que atormentam os filósofos e cientistas há muito tempo. Equipamentos obtêm imagens que permitem mapear áreas do cérebro acionadas. Quando seu time vence ou quando você sente medo, pode-se observar a formação do pensamento em manchas coloridas que se distribuem por áreas distintas do cérebro. O estudo dessas áreas resulta em um mapeamento cada vez mais completo das funções cerebrais e hoje oferece o caminho para a cura de várias doenças e para a elucidação vários mistérios.

Com essas e outras descobertas, surgem enormes campos de estudo no “sótão escuro das ideias”, onde se localizam os segredos do homem. As investigações iniciadas na Grécia Antiga evoluíram até as pesquisas sobre as mais sofisticadas estruturas cerebrais, como a composição molecular das redes neurais.

Ciência versus Filosofia


Filósofos contemporâneos como Thomas Nagel são bastante céticos quanto à possibilidade da ciência responder as questões mais sofisticadas que envolvem a mente humana. O avanço da ciência irá, por exemplo, solucionar o problema da consciência? O pensamento reside mesmo no cérebro ou ou seria, como dizem os espiritualistas, uma função exclusiva da alma humana?

De certa forma, ciência e filosofia caminham juntas nessas investigações, afinal, as duas possuem sólidas bases lógicas e racionais. Entretanto, a filosofia não está necessariamente atrelada (ou limitada) a demonstrações empíricas, e as questões que ela aborda acabam sendo desconcertantes, nos colocando de volta à estaca zero, como tenta fazer Thomas Nagel em seu artigo “Como é ser um morcego?”.

Este embate entre ciência e filosofia ainda pode gerar bons frutos, seja na forma de um confronto onde uma tenta invalidar a outra, sofisticando ainda mais as investigações, ou, quem sabe, as duas consigam chegar a um denominador comum e solucionar alguns dos (vários) mistérios não solucionados da mente humana.

Texto extraído do livro Filosofar e Viver, de Silvio Wonsovicz, e adaptado pelo editor do netmundi.org

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