FILOSOFIA

Aristóteles – Biografia, filosofia, obras e frases

Aristóteles - biografia, obras, frases

Um dia, em meados do verão do ano de 366 a.C apresentou-se um jovem para se matricular na Academia de Platão. Vinha da cidade macedônica de Estagira. Era a imagem perfeita do requinte. Foi educado num ambiente de cultura. O pai, já falecido, foi médico na corte de Amintas, rei da Macedônia e avô de Alexandre. Desde a primeira infância, o jovem Aristóteles(384 a.C- 322 a.C) foi adestrado para uma vida de disciplina mental e conforto físico.

Sua chegada à Academia provocou sensação entre os demais estudantes, pois se tratava de um aristocrata dos aristocratas — afável, bizarro, gracioso, de voz branda, delicado, polido, modelo de bom proceder e de elegância no trajar. Na realidade, era algo incômodo. Falava de forma afetada, e prestava mais atenção às suas roupas — como se queixava Platão — do que convinha a alguém que amasse sinceramente a sabedoria.

Evidenciava, contudo, aptidões intelectuais incrivelmente variadas. Parecia quase impossível um só espírito estar aberto a tantas facetas do conhecimento. Política, drama, poesia, física, medicina, psicologia, história, lógica, astronomia, ética, história natural, matemática, retórica, biologia — eram estes alguns interesses de seu voraz apetite de saber.

Conflitos com Platão


Academia de Platão, de Rafael (1510)

Certa vez, observou Platão que a sua Academia se compunha de duas partes — o corpo de seus estudantes e o cérebro de Aristóteles. Como era de esperar, o maior mestre e o estudante notável estavam sempre discordando. Quando um grego se encontra com outro, especialmente num nível de igualdade mental, o choque torna-se iminente.

Nota do editor: A famosa pintura da Academia retrata justamente um conflito de ideias entre mestre e discípulo. Enquanto Platão aponta para cima, indicando o mundo das ideias perfeitas como verdadeira realidade, Aristóteles faz um gesto para baixo que, de acordo com sua própria filosofia, afirma a importância da realidade, discordando que este mundo seja apenas mera sombra insignificante de um mundo perfeito.

O jovem e o velho filósofo disputavam com frequência, embora se adorassem. Ao morrer Platão em 347 a. C., tinha Aristóteles trinta e sete anos de idade. Esperava justamente ser escolhido como sucessor de Platão na presidência da Academia. Todavia, foi decepcionado. Os administradores da Academia rejeitaram-no como “estrangeiro” e elegeram, em seu lugar, um ateniense.

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Saída de Atenas e casamento com Pítia


Irritado, procurou Aristóteles uma oportunidade para sair de Atenas. Foi convidado por um de seus antigos condiscípulos, Hérmias, um político que obtivera o domínio de um grande território na Ásia Menor. Almejava experimentar um governo sábio, contanto que a sabedoria não lhe interferisse nas riquezas. E assim, atribuiu Aristóteles de ensiná-lo como conciliar a justiça com a exploração da região. Aristóteles, porém, interessava-se apenas pela justiça. Falhou, portanto, em sua missão de afastar o amigo da procura de riquezas e encaminhá-lo no sentido da equidade.

Conseguiu, entretanto, casar com Pítia, a encantadora filha adotiva de Hermias. Apesar de amá-la, não rejeitou o belo dote que ela trouxera consigo. Aristóteles, como veremos, não era contrário à prosperidade. Na verdade, considerava-a como um dos requisitos para uma vida feliz. Casou com Pítia, empregou o seu dinheiro, e passou a lua de mel a catar conchinhas do mar para seus estudos científicos. Terminada a lua de mel, voltou à corte de Hérmias.

Sua estada, entretanto, foi curta. As intrigas de Hérmias haviam despertado a ira de um rei persa. Os persas, então, invadiram o país e crucificaram o governante insensato. Mais uma vez Aristóteles ficou sem pátria e sem emprego.

Tutor de Alexandre, o Grande


Aristóteles e Alexandre. Gravura de Charles Laplante.

Novamente, contudo, recebeu auxílio um amigo real. O rei Filipe da Macedônia, pai de Alexandre, o convidou para residir em seu palácio como tutor de Alexandre. Porém, quando Aristóteles voltou à corte na qual seu pai servira como médico real, sentiu-se deslocado.

A atmosfera macedônica, naquele momento, não era adequada à meditação filosófica. Era uma atmosfera de ambição descontrolada, bárbaro esplendor e bárbara vulgaridade. O rei Filipe era homem de inteligência superior mas de baixa educação. Tinha uma linguagem carregada de erros gramaticais. “Não sou um bárbaro,” insistia, e não desejava também que seu filho fosse “um bárbaro.”

Na verdade, queria que Alexandre se transformasse num requintado filósofo. Mas Alexandre era o filhote indomado de um leão feroz. Em realidade, toda a corte parecia uma floresta de feras raivosas. Disputas, duelos, devassidões, assassinatos — tudo isso andava na ordem do dia. Olímpia, a esposa do rei Filipe, chegava às raias da loucura, e seu marido e seu filho não lhe ficavam muito atrás.

Num dos banquetes reais Filipe tentou apunhalar Alexandre porque o menino o insultara. E Alexandre, para que  não o superassem, desferiu um ataque homicida contra o pai, mas conseguiram apartá-los. Tal era o turbulento ambiente familiar que Aristóteles fora encarregado de suavizar com a “doçura da sabedoria”.

Filipe sonhava com a conquista do mundo inteiro. Entretinha-se por ora em levar a cabo a primeira parte do seu sonho imperialista — a subjugação dos Estados gregos. A todos apresentou uma política de “pacificação” e, quando os Estados gregos se embalaram numa falsa sensação de segurança à vista de suas promessas insinceras, foram conquistados, um a um.

Mas, em meio a seu triunfo, Filipe foi assassinado. Alexandre, o pupilo de Aristóteles, abandonou a filosofia do mestre pelos sonhos práticos do pai. Completou a campanha interrompida de Filipe contra os gregos e empreendeu, depois, a conquista do resto do mundo. Como um freio contra a própria impetuosidade levou consigo o filósofo Calístenes , discípulo e sobrinho de Aristóteles.

Calístenes, todavia, não apaziguou a impetuosidade de Alexandre. Ao contrariá-alo, Alexandre o matou. Enfurecido ante a recusa do filósofo em considerá-lo um deus, ordenou que Calístenes fosse enforcado.

Viu-se de novo Aristóteles entregue aos próprios recursos. Fora à Macedônia em busca da glória política. Como político regressava agora mais triste à Atenas; porém, mais sábio como filósofo. Fartara-se da vida prática. Daquele momento em diante iria se devotar ao estudo.

Pesquisas científicas e o surgimento do Liceu


Escola de Aristóteles, pintura de 1880 por Gustav Adolph Spangenberg

Além de sua fortuna de modo algum desdenhável, recebera do rei Filipe a soma de oitocentos talentos para as suas investigações científicas. Contratando perto de mil assistentes, enviou-os a todas as partes do mundo afim de coletar material e espécimes para uma vasta enciclopédia de filosofia e ciência. Aristóteles, todavia, era mais que um pesquisador. Era, antes de tudo, um professor.

Magoado ainda pela sua derrota como candidato à presidência da Academia, abriu uma escola rival, o Liceu — assim chamado por estar situado no bosquete dedicado a Apolo Lício, o defensor dos rebanhos contra os lobos. Ali reuniu o seu rebanho de estudantes e preparou-os para lutar contra os lobos da ignorância.

Pela manhã, proporcionava cursos técnicos aos discípulos mais adiantados e à tarde dava aulas públicas ao povo em geral. Seus contemporâneos nos deixaram vívido retrato de Aristóteles como conferencista: calvo e um tanto barrigudo (porque se aproximava agora dos cinqüenta anos), cuidadosa e mesmo ostentosamente vestido, as pernas finas, os olhos penetrantes e a língua afiada.

Infatigável por natureza, era incapaz de ficar sentado ao fazer as suas palestras, especialmente pela manhã, quando os alunos eram pouco numerosos. Conversava com eles caminhando de um lado para outro, expondo suas ideias e respondendo perguntas, e assim ganhou para o seu Liceu o apelido de escola peripatética — a escola dos Filósofos Ambulantes. Até hoje é a filosofia aristotélica conhecida como o sistema peripatético.

A imperfeição do conhecimento científico de Aristóteles não era devida a nenhuma imperfeição de seu espírito, mas à ausência de instrumentos científicos necessários. Sem um telescópio de um lado ou um microscópio de outro, não podia ele fazer ideia da vastidão do universo nem da pequenez de suas partes. Em virtude dessa desvantagem, tem hoje a ciência de Aristóteles interesse histórico, porém não valor prático.

Nota do editor: Apesar disso, a lógica clássica de Aristóteles é considerada o fundamento da lógica desenvolvida posteriormente e uma referência de argumentação racional e demonstrativa impecável, qualidade até hoje fundamental para qualquer cientista.

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  1. Aristóteles – o maior filósofo e cientista do mundo antigo

Tópicos fundamentais da Filosofia de Aristóteles


Aristóteles levanta três tópicos que dizem respeito de modo vital tanto à nossa geração quanto à dele. Esses três tópicos são Deus, o Estado e o Homem. Qual é a natureza de Deus? Qual é a melhor espécie de governo para o Estado? E qual é o comportamento mais desejável para o Homem? Estuda Aristóteles a natureza de Deus em sua Metafísica, o governo do Estado em sua Política e a moral e felicidade do homem em sua Ética.

Deus ou o Motor Imóvel

No sistema filosófico de Aristóteles não é Deus o criador do universo mas a causa de seu movimento. Porque o criador é um sonhador, e um sonhador é uma personalidade insatisfeita, alma que anseia por algo que não existe, ser infeliz que busca a felicidade — em suma, criatura imperfeita que aspira à perfeição. Mas Deus é perfeito e, sendo perfeito, não pode ser insatisfeito ou infeliz. Não é, portanto, Criador mas o Motor do Universo.

Mas que espécie de Motor? A essa pergunta responde Aristóteles que Deus é o Motor Imóvel do universo. Toda e qualquer outra fonte de movimento no mundo, seja uma pessoa, seja uma coisa, seja um pensamento, é um motor e é também movido por algo.

Dessa sorte, o arado move a terra, a mão move o arado, o cérebro move a mão, o desejo de alimento move o cérebro, o instinto da vida move o desejo de alimento, e assim por diante. Em outras palavras, a causa de todo movimento é o resultado de outro movimento qualquer. O amo de todo escravo é escravo de algum outro amo. O próprio tirano é escravo de sua ambição.

Deus, no entanto, não pode ser resultado de nenhuma ação. Não pode ser escravo de amo nenhum. É a fonte de toda a ação, o amo de todos os amos, o instigador de todo o pensamento, o Motor Imóvel do mundo. Além disso, Deus não se interessa pelo mundo, muito embora o mundo se interesse por Deus. Pois interessar-se significa sujeitar-se a uma emoção, deixar-se mover por preces ou imprecações, ser capaz de modificar o próprio espírito em virtude das ações, desejos ou pensamentos alheios — em suma, ser imperfeito.

Mas Deus é sem paixão, imutável, perfeito. Move o mundo como um amante move o objeto amado. Passa pela rua uma linda mulher. Perdida em próprios pensamentos, traz os olhos fixos no chão. Não olha Para ninguém. Mas todos a contemplam. A presença da sua beleza fez com que todos os olhares se voltassem, emocionou todos os corações, gerou pensamentos em todos os espíritos. Tal é a natureza da beleza de Deus.

Sem ser movido, “produz movimento dentro de todos nós por ser amado.” Esse Deus aristotélico, amado amado por todos os homens, e indiferente a seus destinos, é um Ser Supremo, frio, impessoal e, do nosso ponto de vista religioso moderno, totalmente insatisfatório.

Esse Deus mais se assemelha à energia dos cientistas do que ao Pai Celestial dos poetas. O espírito humano, divorciado de toda emoção, pode ser capaz de conceber tal governante desinteressado do universo. Todavia, o coração humano, com a sua carga de tristeza e a sua capacidade de compaixão, insiste sobre um Deus que mais seja um amigo no céu do que uma algo destituído de amor, como nas especulações metafísicas de um filósofo grego.

Política

Uma por uma, o filósofo grego estudou as várias formas de governo já experimentadas no mundo antigo: a ditadura, a monarquia, a oligarquia (governo dos poucos) e a democracia. Reconhece seus pontos fortes e fracos. De todas as formas de governo, a pior é a ditadura, pois subordina os interesses de todos, às ambições de um só.

A forma de governo mais desejável, por outro lado, é aquela que “permite a cada homem, seja quem for, exercitar as suas melhores habilidades e viver o mais agradavelmente os seus dias”. Tal governo, seja qual for seu nome, será sempre um governo constitucional. Qualquer governo sem constituição é tirania, seja ele o de um só, ou o de uns poucos, ou o de muitos homens.

Nota do Editor: O próprio Aristóteles escreveu a constituição de várias cidades-Estado da grécia antiga.

A vontade irrefreada de um punhado de plutocratas ou de uma horda de proletários, é exatamente tão tirânica quanto a vontade irrefreada de um só homem. A ditadura de uma classe não é melhor que a ditadura de um indivíduo. Partindo desse ponto, passa Aristóteles a descrever o que considera um tipo perfeito de governo não ditatorial.

Em primeiro lugar, não seria esse governo como a República de Platão — comunista. A posse comum da propriedade resultaria em contínuas incompreensões, contendas e crimes. Isso destruiria a responsabilidade pessoal. “Pelo que é de todos, ninguém se interessa.” A responsabilidade comum significa a negligência individual. “Toda a gente inclina-se a fugir de uma obrigação quando espera que outro a desempenhe.” Não se pode esperar socializar os bens humanos assim como não se pode esperar socializar a natureza humana.

Advoga, Aristóteles, o desenvolvimento particular do caráter de cada homem e a posse privada da propriedade de cada homem. Mas como o caráter particular de cada homem deve ser dirigido para o bem estar público, assim deve a propriedade privada de cada homem ser empregada para uso público. “E a tarefa principal do legislador consiste em criar em todos os homens essa disposição cooperativa.”

Cabe inteiramente ao legislador a obrigação de prover ao interesse público por meio de altruística reciprocidade dos interesses privados dos cidadãos. Para esse fim não deve haver distinção entre as classes dos dirigentes e a classe dos dirigidos.

Na verdade, todos os cidadãos deveriam, igualmente, governar e ser governados, com a cláusula geral de que “os velhos são os mais indicados para governar, e os jovens para obedecer.” A classe dirigente há-de preocupar-se vitalmente com a educação dos jovens.

E essa educação há de ser, a um tempo, prática e ideal. Não deve proporcionar, apenas, aos cidadãos adolescentes os meios de prover à sua subsistência, mas deve também ensiná-los como viver de acordo com os meios de que dispõem.

Nota do editor: Aristóteles considerava os jovens incapazes de decisões políticas, observando que a política gira em torno dos fatos da vida, sendo os jovens inexperientes nesses fatos.

Dessa maneira, o Estado assegurará a formação de uma cidadania esclarecida, próspera, cooperativa e satisfeita. Acima de tudo, devem os dirigentes ter por objetivo o contentamento dos dirigidos. Contentamento por meio da justiça. Porque somente dessa maneira poderão evitar revoluções. “Nenhum homem sensato sofrerá um governo injusto se puder escapar-lhe ou derrubá-lo.”

Um governo injusto se assemelha o fogo que esquenta até ao ponto de explosão. Está destinado, mais cedo ou mais tarde, a redundar em violência. Julgada do ponto de vista da imparcialidade com respeito aos cidadãos, “parece a democracia ser mais segura e menos exposta à revolução do que qualquer outra forma de governo.”

Os países que mais facilmente explodirão em rebeliões são os governados por ditadores. “A ditadura é a forma mais frágil de governo.” O objetivo do governo, escreve Aristóteles, é garantir o bem estar dos governados. E assim traduz-se em ética a política: O Estado existe para o homem, e não o homem para o Estado.

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  1. A República e o governo ideal de Platão

Ética e Felicidade

Mesmo numa vida breve e no meio do infortúnio, é possível a um homem nobre ser feliz. A alma nobre pode ensinar a insensibilidade ao sofrimento, a qual é, em si mesma, uma virtude. Em outras palavras, podemos, alguma vez, alcançar a felicidade renunciando a ela. Além disso, nenhum homem pode ser chamado infeliz se procede de acordo com a virtude.

A felicidade, para Aristóteles, consiste na realização de boas obras de acordo com a virtude. O único homem completamente feliz é o “que age de conformidade com a virtude completa e é suficientemente dotado de riquezas, saúde e amizades, não por um período transitório, mas durante a vida inteira.” E isso só será possível, mesmo para aquele que nasce rico, se der a cada coisa sua justa medida. Aristóteles chamou esta atitude de “Áurea mediocridade”, como veremos mais adiante.

Mas se a felicidade é o resultado da virtude, que é então a virtude? Para os antigos, não significava esta palavra, como hoje para nós, apenas excelência moral. Significava qualquer excelência. Um general competente mas impiedoso seria, em Atenas, considerado como o soldado virtuoso.

Na verdade, a palavra grega para virtude, arete, derivava de Ares, o deus da guerra. O que entendemos atualmente por virtude tem sua origem na tradução latina de arete — virtus, que significa virtude ou qualidade. Uma pessoa virtuosa, na filosofia de Aristóteles, era uma pessoa que possuísse coragem física, competência técnica e virtuosidade mental.

A essas três qualidades, acrescenta Aristóteles um quarto requisito para felicidade: a nobreza moral. Essa excelência completa, portanto, era preciosa ao “guerreiro feliz” de Aristóteles no campo de batalha da vida. Aristóteles sintetizou essa múltipla excelência em sua famosa doutrina da “Áurea mediocridade.”

O homem feliz, o homem virtuoso, é aquele que preserva a “Áurea mediocridade” entre os extremos das ações insensatas. É o que navega no caminho do meio entre os perigos que ameaçam arruinar-lhe a vida. Em cada obra, em cada pensamento, em cada emoção, pode um homem cumprir mais do que deve, cumpri-lo insuficientemente ou cumpri-lo com justeza (este último, o ideal).

Assim, partilhando os seus bens com outras pessoas, pode ser extravagante, o que é ultrapassá-lo, avarento, o que é cumpri-lo imperfeitamente, ou ser sensato, o que é cumpri-lo com justeza. Ao enfrentar os perigos da vida pode ser um homem temerário, covarde ou bravo. Em relação à comida será glutão, abstêmio ou moderado. Em todos os casos, o meio racional de vida consiste em nada fazer de mais nem de menos, porém adotar o meio termo.

O homem virtuoso é aquele que dá a cada coisa a justa medida. Age “nos momentos certos, em relação aos objetos certos e às pessoas certas, com o motivo certo e da maneira certa.” Irá observar, em suma, em todos os tempos e em todas as condições, a “Áurea mediocridade”. Não será nem medíocre de fato e nem fará muito mais do que deve.

Pois é a “Áurea mediocridade” a estrada real da felicidade. E tendo pavimentado a estrada da felicidade descreve, agora, Aristóteles, o homem ideal, digno de ser feliz. O homem ideal, o cavalheiro aristotélico, “não se expõe desnecessariamente ao perigo mas está preparado, por ocasião das grandes crises, para dar a própria vida, se preciso for. Sente prazer em fazer favores a outros homens, mas envergonha-se quando outros lhe fazem favores. Pois, como é indício de superioridade prestar um favor, é também vergonha recebê-lo.”

Essa falta de egoísmo, entretanto, não é senão uma forma mais alta de egoísmo, um egoísmo esclarecido. A boa ação não é um ato de auto-sacrifício, mas de autopreservação. Pois um homem não é uma criatura individual. É uma criatura social. Toda boa obra é um investimento: está destinada, mais cedo ou mais tarde, a ser retribuída com juros.

“O homem ideal, por conseguinte, é altruísta porque é sábio… Não fala mal dos outros, nem sequer dos inimigos, a não ser que o faça diretamente a eles… Não guarda rancor e sempre esquece as injúrias… Em resumo, é um bom amigo para os outros porque é o melhor amigo de si mesmo.”

Últimos anos


O retrato do cavalheiro ateniense é, na realidade, o autorretrato de Aristóteles. Delicado, imperturbável e sábio, continuou a apontar aos seus semelhantes o caminho médio da segurança, situado entre a temeridade da conquista, de um lado, e a covardia da submissão, de outro.

Mas os tempos andavam desarticulados. Os atenienses não se encontravam predispostos a prestar ouvidos à sabedoria. Acusaram Aristóteles de ser um espião dos macedônios. Não esqueceram o fato dele ter sido o professor de Alexandre. Quanto ao próprio Alexandre, este também se tornara hostil a Aristóteles. A sabedoria e a guerra eram dois inimigos irreconciliáveis.

A moderação, a calma, a “Áurea mediocridade” — essa era uma doutrina perigosa demais para ser ouvida entre os ruído das armas dos conquistadores. Alexandre já matara Calístenes, sobrinho de Aristóteles, e muito provavelmente Aristóteles não iria considerar Alexandre um deus, fato que matou Calístenes. E assim, viu-se o suave filósofo cercado de perigos de ambos os lados.

Um desses perigos foi eliminado quando Alexandre morreu em conseqüência de uma bebedeira. Mas o outro perigo, nascido da suspeita dos atenienses, continuou a crescer constantemente até que, por fim, foi Aristóteles ameaçado de prisão.

Lembrando-se do destino de Sócrates, saiu Aristóteles da cidade antes que fosse tarde demais. Não queria proporcionar aos atenienses “uma segunda oportunidade de pecar contra a filosofia”. Morreu o filósofo um ano depois de sua partida de Atenas. Pouco antes de sua morte escreveu um testamento breve no qual libertava seus escravos. Foi a primeira proclamação de alforria na história.

Link sugerido do netmundi.org:

  1. O julgamento de Sócrates

Autor: Henry Thomas Schnittkind

Do livro, “Vida de Grandes Filósofos”, 1944. Tradução de Otávio Mendes Cajado. Adaptações, notas, links e frases de Aristóteles incluídas pelo editor do netmundi.org.

Referências Bibliográficas do editor


  1. DUMONT, J. P. Elementos de história da filosofia antiga. Brasília: EdUnB, 2005
  2. HADOT, P. O que é a Filosofia antiga? São Paulo: Lisboa, 1999.
  3. LAÊRTIOS, D. Vida e doutrinas dos filósofos ilustres. Brasília: Ed UnB, 1997.

Frases de Aristóteles


  1. “Todos os seres humanos, naturalmente, desejam o conhecimento.”
  2. “Somos aquilo que fazemos repetidamente.”
  3. “Nos jogos olímpicos, não são os homens mais belos e os mais fortes que vencem, mas o que competem. Assim também as coisas boas e nobres da vida só são conquistadas pelos que agem retamente.”
  4. “Os bens que se relacionam com a alma são os bens no mais próprio e verdadeiro sentido do termo, e os bens da alma são os pensamentos.”
  5. “O homem que não se alegra com as ações nobres não é sequer bom.”
  6. “A felicidade é a melhor, mais nobre e mais agradável coisa do mundo”
  7. Cada homem julga bem apenas as coisas que conhece, assim, um homem instruído a respeito de um assunto é bom juiz apena nesse assunto.”
  8. “A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las.”
  9. “O homem que vive só ou é fera ou é Deus.”
  10. “Um jovem não é bom entendedor de política, pois não tem experiência dos fatos da vida.”

Mais frases de Aristóteles e outros filósofos retiradas diretamente de suas obras. Aqui no netmundi.org:

  1. Frases de Aristóteles
  2. Frases de Sócrates
  3. Frases de Epicuro
  4. Pensamentos de grandes filósofos

Principais Obras


Nota do editor: Boa parte das obras de Aristóteles foram classificadas e nomeadas séculos após sua morte. Andrônico de Rodes, por exemplo, foi um dos grandes compiladores de Aristóteles e cunhou o termo “metafísica” para se referir aos manuscritos do filósofo grego que travavam de Deus e da Alma. O próprio Aristóteles nunca utilizou esse termo, chamava de “filosofia primeira” a investigação das coisas transcendentais. Muitas obras de Aristóteles — como as conhecemos — foram o resultado do trabalho vários organizadores. As mais conhecidas são:

  1. Constituições (incluindo a constituição de Atenas)
  2. Diálogos
  3. Da Monarquia
  4. Alexandre
  5. Os costumes dos bárbaros
  6. História Natural
  7. Organon, ou O instrumento do raciocínio correto
  8. Da Alma
  9. Retórica
  10. Lógica
  11. Ética a Eudemo
  12. Ética a Nicômaco
  13. Física
  14. Metafísica
  15. Política
  16. Poética

Para um índice completo das obras de Aristóteles, consulte:

  1. Corpus aristotelicum

Links sugeridos do netmundi.org:

  1. Aristóteles | 16 livros para ler e baixar
  2. Platão | 5 livros para baixar
  3. Coleção Os Pensadores | 22 livros para baixar