FILOSOFIA

Tales de Mileto: o tropeço do primeiro filósofo

Tales de Mileto o primeiro filósofo

Platão e Aristóteles relataram alguns fatos curiosos e engraçados sobre Tales de Mileto (623 a.C – 558 a.C), o primeiro filósofo. Platão, em Teeteto, nos conta que certa vez, observando o céu, Tales tropeçou e caiu em um poço. Uma escrava da Trácia ficou rindo dele, e o primeiro filósofo adquiriu fama de lunático e distraído.

Tales observava o céu porque era astrônomo e observador da natureza — um filósofo da Physis, como eram chamados os primeiros filósofos.

Conforme o relato de Aristóteles, na sua obra A Política, Tales foi repreendido pelos cidadãos de Mileto por se desatento, afirmando que a Filosofia de nada servia; que ele perdia tempo refletindo.

Contudo, sendo Tales um estudioso dos astros, através da observação das estrelas previu uma grande safra de azeitonas com um ano de antecedência. Assim, arrumou algum capital e alugou por baixo custo todas as prensas de azeite da região.

Com a chegada da safra prevista, os produtores foram obrigados a alugar de Tales as prensas a um custo bem mais alto. Com esse negócio, Tales angariou uma fortuna. Pode-se  dizer até que foi um dos primeiros especuladores financeiros.

Aristóteles conclui essa história da seguinte forma: “é fácil aos filósofos enriquecer, se desejarem, mas não é isso o que lhes interessa”.

Sobre o fato de Tales ser considerado o primeiro filósofo, Friedrich Nietzsche nos diz em sua obra A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos:

 “A Filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário determo-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado latente, está contido o pensamento: “Tudo é Um”. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e o mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego”

A importância dos pré-socráticos


O termo pré-socrático carrega certo preconceito: é entendido como reflexão filosófica inicial que só irá amadurecer com Sócrates, Platão e Aristóteles. Também é pouco creditado aos pré-socráticos as bases que irão definir todo o pensamento ocidental depois deles.

Esse preconceito não condiz com a importância desses primeiros filósofos, que representam a aurora não apenas da Filosofia, mas da própria razão humana. Foram eles que criaram os conceitos universais que seriam utilizados posteriormente na ciência, bem como vários modelos utilizados pelos filósofos depois deles, inclusive Platão.

Alguns estudiosos desse período, como John Burnet, afirmam que os pré-socráticos representam uma sofisticada abstração que não deve ser interpretada como “filosofia inicial”, e só deveriam ser estudados depois de percorrida a longa estrada da filosofia.

Dentre os pré-socráticos estão:

AutorAlfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.