FILOSOFIA

Heráclito de Éfeso: physis, logos e alétheia

Heráclito de Éfeso - tudo flui

Logos e alétheia são termos criados pelo filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso (535 a.C – 475 a.C ) para demonstrar a razão que ordena a natureza e sua característica de se ocultar e se revelar continuamente. Physis, todavia, não é um conceito de Heráclito, mas termo comum a todos os primeiros filósofos da Grécia Antiga.

Heráclito estabeleceu o fogo como princípio de todos os seres. No entanto, o filósofo está utilizando um simbolismo para se referir ao dinamismo e eterno devir da natureza, pois faz parte da segunda fase dos pré-socráticos, que começaram a desenvolver conceitos para explicar a physis sem designar, literalmente, um elemento físico como origem de todos os seres.

Physis


A  physis, traduzida apenas como “natureza” ou “física”, tem, para os gregos antigos, significados amplos e poéticos. Corresponde ao “emergir” das coisas, pois deriva da palavra phyein, que designa tudo o que brota, nasce, cresce e perece. As coisas (os entes) emergem continuamente ao nosso redor. Surgem e nos surpreendem, sejam pessoas, paisagens ou situações.

Esses entes que surgem se modificam para depois desaparecerem e ressurgirem de outra forma. Todos nós nascemos, crescemos, nos modificamos e morremos, pois somos parte da physis. A natureza (physis), no entendimento dos gregos antigos, está em eterna fluidez circular.

Logos


logos

physis é governada pelo logos. A forma racional de se expressar, conforme aconteceu com os pré-socráticos, tem relação com esse logos. Foi através da observação da physis que os pré-socráticos abandonaram as explicações mitológicas, pois perceberam a ação de uma razão universal que governa a natureza.

Heráclito, nesse aspecto, foi claro ao afirmar: tendo ouvido não a mim, mas ao logos, é certo afirmar que tudo é um. Assim, o logos é razão, referindo-se ora à razão universal, ora à razão humana.

Heráclito comparou o dinamismo do logos ao fogo porque, de todos os elementos, o fogo seria o mais dinâmico.

Alétheia 


Physis e logos são conceitos necessários ao entendimento da alétheia, que corresponde à revelação do ser das coisas que surge com a investigação filosófica. O termo alétheia foi traduzido para o latim como veritas (verdade). 

A busca dos filósofos pré-socráticos corresponde à busca pela verdade, pois alétheia significa, em grego, “revelar o que está oculto” ou “lembrar o que estava esquecido”.

Alétheia é o oposto da palavra grega léthes, que significa encobrimento. Assim, o ser que se revela também se oculta continuamente. É necessário usar a razão que repousa no logos para “levantar o véu da realidade”, pois, conforme afirmou Heráclito, “a essência das coisas ama ocultar-se”.

Heráclito e o eterno devir


A filosofia de Heráclito afirma que a realidade é eterno devir, pois flui constantemente (Panta Rhei). Aquilo que foi revelado, logo se oculta e se modifica. As coisas que nos surpreendem logo mudam, mesmo quando reveladas, pois estão fluindo eternamente. Essa é a origem da frase do filósofo de Éfeso:  O mesmo homem não se banha duas vezes no mesmo rio, pois outras serão as águas, e outro será o homem.

A importância dos pré-socráticos


O termo pré-socrático carrega certo preconceito: é entendido como reflexão filosófica inicial que só irá amadurecer com Sócrates, Platão e Aristóteles. Também é pouco creditado aos pré-socráticos as bases que irão definir todo o pensamento ocidental depois deles.

Esse preconceito não condiz com a importância desses primeiros filósofos, que representam a aurora não apenas da Filosofia, mas da própria razão humana. Foram eles que criaram os conceitos universais que seriam utilizados posteriormente na ciência, bem como vários modelos utilizados pelos filósofos depois deles, inclusive Platão.

Alguns estudiosos desse período, como John Burnet, afirmam que os pré-socráticos representam uma sofisticada abstração que não deve ser interpretada como “filosofia inicial”, e só deveriam ser estudados depois de percorrida a longa estrada da filosofia.

Dentre os pré-socráticos estão:

AutorAlfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.