FILOSOFIA

O deus Ganesha e a cura de Schopenhauer

Ganesha

A forma de expressão utilizada pelas religiões orientais é carregada de símbolos e narrativas que representam um equilíbrio entre uma boa história, sabedoria e valores morais. O deus indiano Ganesha é um dos exemplos significativos.

O filósofo alemão Arthur Schopenhauer se inspirou nas religiões orientais para afirmar a necessidade de diminuir nossos desejos e amenizar o sofrimento que é inerente à vida.

Assim, Schopenhauer acabou incorporando elementos dessas religiões em sua própria filosofia.

Tanto o Budismo quanto o Hinduísmo têm uma grande quantidade de deuses que representam as sabedorias de suas religiões; cada um deles carrega atributos e especialidades.

Os símbolos de Ganesha


Ganesha

A imagem do deus Ganesha traz símbolos que representam as sabedorias que devem ser lembradas pelos seus devotos. Além disso, de acordo com a crença associada a ele, Ganesha remove os obstáculos e facilita as jornadas.

Devido à esta admiração do filósofo alemão pelas religiões orientais, o escritor e psiquiatra Irvin D. Yalom incluiu em seu romance “A Cura de Schopenhauer” um belo diálogo sobre este deus indiano.

Abaixo segue o trecho do livro onde o personagem indiano Vijay explica para uma turista americana, Pam Swanvil,  o simbolismo do deus indiano Ganesha:

Após um breve silêncio, Vijay acrescentou:

—  É por isso que a lua participa dos festivais de Ganesha

— Obrigado pela informação

— Eu me chamo Vijay Pande

—  E eu, Pam Swanvil. Linda essa história e que engraçado esse deus com cabeça de elefante e corpo de Buda. os aldeões parecem levar seus mitos tão a sério, como se fossem realmente(…)

—  É interessante a imagem de Ganesha — Vijay interrompeu, gentil, tirando de dentro da camisa uma grande medalha de Ganesha que trazia numa corrente. —  Repare que tudo em Ganesha tem um sentido, uma lição de vida. A grande cabeça de elefante é para pensarmos muito. E as orelhas grandes? Para ouvirmos mais. Os olhos pequenos lembram devemos nos concentrar, e a boca pequena, de falarmos menos. Não esqueço a recomendação de Ganesha nem enquanto falo com você (procuro não falar demais). Posso estar falando mais do que deseja saber.

—  Não, não, tenho muito interesse na imagem desse deus.

—  Há outras informações, veja mais de perto: nós, indianos, somos pessoas muito sérias —  disse ele, pegando uma pequena lupa na pasta de couro pendurada no ombro.

Segurando a lupa, Pam inclinou-se para ver a medalha de Vijay. —  Ganesha só tem uma presa —  notou ela.

— Isso quer dizer: fique com o bom, jogue fora o ruim.

— E o que ele segura? Um machado?

— Sim, para cortar os apegos.

— Isso lembra a doutrina budista.

—  Sim, lembre-se que Buda saiu da mãe-oceano de Shiva.

— E o que ele segura na outra mão? Não dá pra ver direito, é um tecido?

— Uma corda para manter a pessoa próxima de sua meta. Repare no veículo usado por Ganesha, aqui, sob os pés dele.

Pam aproximou-se para olhar na lupa. — Ah, sim, o rato. Vi em toda estátua e gravura dele, mas nunca entendi porque o rato.

— Esse é o atributo mais interessante de todos. O rato significa o desejo. Você só pode montar nele se o controlar, caso contrário ele causa destruição.

Pam calou-se. O trem passou por árvores mirradas, templos, búfalos mergulhados em lagos lamacentos e fazendas cujo solo vermelho havia se exaurido por milhares de anos de plantio. Olhou Vijay e sentiu uma onda de gratidão. Como ele fora discreto e gentil em mostrar a medalha, evitando assim que ela passasse pelo constrangimento fazer algum comentário irreverente e depreciativo sobre a religião dele. Quando foi que um homem fora tão atencioso com ela?

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